Aterrar um Boeing 767 sem trens de aterragem e com 230 passageiros a bordo. Aconteceu ontem na capital polaca com uma aeronave da companhia aérea polaca LOT que fazia o voo entre Nova Iorque e Varsóvia. Tudo acabou bem na pista do aeroporto de Okęciem.
A Polónia precisava de algo que em parte exorcizasse a tragédia do presidente Kaczyński e da comitiva de Smoleńsk. Depois de um acidente aéreo envolto em polémica, rico em teorias da conspiração - pela omnipresença da Rússia nas investigações e relatórios, num reavivar de velhos ressentimentos - o sucesso de uma aterragem em condições de elevado risco, especialmente tendo em conta que o avião era polaco tal como a tripulação e a maior parte dos passageiros eleva a moral de uma nação que precisa de estímulos e reafirmação num mundo onde já não há lugar (com as devidas excepções) a isolamentos. Os pilotos polacos, por exemplo, tiveram um papel preponderante na II Grande Guerra, durante o governo no exílio, numa altura de perda de independência e onde a sobrevivência da nação polaca eram essenciais. Tomando os comandos dos Spitfire da RAF combateram heroicamente os temíveis pilotos da Luftwaffe em batalhas aéreas memoráveis e heroicas.
Ontem o capitão Wrona evocou os heróis do passado numa aterragem tida como perfeita ao deslizar mais de 80 toneladas de metal numa fina camada de espuma. Acompanhei o percurso da aeronave antes da aterragem pelo site flightradar24, tal como milhares de internautas pude verificar em tempo real os inúmeros círculos do aparelho em redor de Varsóvia. A intenção da torre de controlo era a de queimar o querosene na maior quantidade possível de modo a evitar um incêndio com consequências trágicas. Entretanto dois caças F-16 da força aérea polaca descolam de modo a verificarem visualmente se os trens de aterragem do voo LOT 016 estavam de facto recolhidos. Uma avaria no sistema hidráulico central dos trens de aterragem - a par com uma avaria paralela no sistema manual! - tornaram inevitável a sempre temida aterragem de barriga.
No solo as equipas de bombeiros e para-médicos preparavam-se para o que pudesse acontecer enquanto enchiam de espuma a pista onde o Boeing deveria aterrar, do lado de fora do aeroporto Okęciem curiosos filmavam com os seus telemóveis e equipas de televisão aproximavam-se da rede com arame farpado que circunda o aeroporto. O espaço aéreo e o próprio aeroporto ficaram interditos enquanto que outros voos aguardavam entre os quais um da TAP entre Lisboa e Varsóvia.
As 14:40 o avião aproxima-se ruidosamente da pista tocando primeiramente com a barriga até pousar completamente com os motores entre um chuveiro de faíscas e algum fogo, em perfeita linha recta. A evacuação dos assustados passageiros foi extremamente rápida e as equipas de bombeiros prontamente apagaram os incêndios nas turbinas.
Não admira portanto que nas redes sociais, especialmente no Facebook, alguém tenha colocado na quase instantânea página de fãs do capitão Wrona: “Lataj jak orzeł, ląduj jak Wrona!” – Voa como uma Águia, aterra como um Corvo! (Wrona = Corvo)
1 comentário:
Sou um afficionado de aviacăo e por acaso frequentador, além de outros, do sítio que indicas-te. Por acaso tava a seguir um aviăo da TAP que deveria ir para Varsóvia e que acabou por vir para Krakow. Achei aquilo estranho e pensei tratar-se de alguem erro do site. Na mesma altura um outro aparelho com destino ao mesmo local fazia meia volta. Isso levou-me a perguntar aos colegas de trabalho se sabiam de algum problema no Fredrik Chopin ao que fui informado do acidente que falas.
A Polónia merecia esta lufada de ar fresco para calar as babuskas e outros que năo se calam com o acidente de Smolensk e assim honrarem a memória dos implicados.
Coincidencia... estou a ler um livro acerca dos feitos dos pilotos Polacos durante a Segunda Guerra Mundial a combaterem pela Inglaterra.
Enviar um comentário