sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Being Janusz Palikot*

Tal como o falecido Andrzej Lepper, Palikot é uma das figuras coloridas do panorama político polaco. Odiado por aquilo a que os polacos jocosamente chamam de bando das Moherowe Berety (Boinas em Mohair), ou seja, as beatas da Igreja - sempre com as boinas na cabeça - que suportam a eminência parda de Tadeuz Ryzyk, a sua Radio Maryja e o seu canal televisivo TRWAM tem apoiantes naqueles que são anti-clericais, homossexuais e laissez-faire


Palikot tem má reputação. Diz a vox populi que enriqueceu à custa do contrabando de vodka da Ucrânia para a Polónia, que é um bêbado, imoral e vulgar, num debate mandou foder (literalmente) a federação polaca de futebol. Os media mais conservadores descredibilizam Palikot e as suas convicções sobre a liberalização do aborto, do casamento homossexual, as drogas leves e sobretudo a influência da Igreja Católica nos assuntos de Estado e na Polónia em geral. O seu partido, fundado depois da sua passagem pelo PO (Plataforma Cívica), chama-se de Movimento de Palikot e é declaradamente liberal e anti-clerical. Ganhou 10% dos votos nas ultimas eleições e conseguiu desse modo 40 lugares no Sejm polaco, um dos membros do partido de Palikot a ocupar as cadeiras é transexual.




Palikot entende que um dos maiores problemas da Polónia é a burocracia - um legado do comunismo. Ao assinalar certas deficiências do sistema mexe num ninho de vespas onde estão oficiais bem-instalados, com funções definidas e status de "intocáveis". Foi assim que numa entrevista criticou alguns policias de Lublin acusados de violação. apareceu com uma pistola e um vibrador - dizia serem os símbolos da justiça polaca e da polícia. A dada altura apareceu em público com uma t-shirt a apoiar o partido rival o SLD. Na frente lia-se "Estou com o SLD" e na parte de tras "Sou Gay". Uma critica às visões conservativas do partido em causa. Noutra questiona a virilidade de Kaczyńsky perguntado-lhe se gosta de mulheres. Sem quaisquer remorsos sugere que o irmão sobrevivente é gay.


A sua irreverência foi ao ponto de levar para o estúdio da TVN uma cabeça de porco num prato evocando em parte a famosa cena da cabeça de cavalo no filme O Padrinho (Poderoso Chefão no Brasil) e desafiando a PZPN (Associação de Futebol Polaca). Para ele são uma máfia e todos uns corruptos.

Rei morto, Rei posto. Morre Andrzej Lepper e surge Palikot. Independentemente das suas ideias e das suas atitudes nada "politicamente correctas" é uma pedrada no charco num país eminentemente conservador e um dos últimos redutos da Igreja de Roma. Alguém fica com a sensação que se abriu uma janela e sopra ar fresco?



 * Ser Janusz Palikot. Como no filme Being John Malkovich (Queres/Quero ser John Malkovich?)

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