terça-feira, 20 de setembro de 2011

Dez anos é muito tempo!

A história da razão porque vim aqui parar está contada no primeiro artigo deste blogue. Como tantos outros foi o programa de intercâmbio de alunos que, há dez anos atrás, se denominava de Sócrates-Erasmus.

19.09.01 Warszawa. O primeiro carimbo numa Polónia que ainda não fazia parte da UE e que ainda se reencontrava depois de dez anos de democracia. 




Quando a porta do avião da Air France se abriu, naquela noite de Setembro, um ar frio sentiu-se de imediato nas narinas, em Portugal ainda fazia calor e o sol durava mais tempo mas afinal estava na Europa Central. Saltava à vista as letras vermelhas - no antigo aeroporto de Okęciem - a dizerem que estamos em WARSZAWA. Varsóvia em polaco. Daquele país pouco sabia, há dez anos atrás a Internet não só era lenta como ainda estava no início. O Google era virtualmente desconhecido e as pesquisas faziam-se quase sempre no Yahoo ou no Altavista. Informações sobre a Polónia eram escassas e generalistas e sobre Łódź nem um mapa se encontrava. Havia lido sobre o país de acolhimento num livro das Selecções do Reader's Digest mas como é apanágio dessas publicações a informação era generalista e amiúde enviesada.

Skyline de Varsóvia. Uma capital europeia em franco desenvolvimento. O Palácio da Cultura, outrora o edifício mais alto da Polónia, vai perdendo altura quando em comparação com novas torres e arranha-céus construidos e outros ainda maiores que estão planeados.

Ao longo destes dez anos mudou, por muito que hajam certos comentários negativos sobre o desenvolvimento deste país a verdade é que sim, a Polónia de 2001 e a de 2011 é outra. Sente-se menos o ambiente PRL (acrónimo para República Popular da Polónia) apesar de inúmeros edifícios públicos, estações de autocarro e caminhos de ferro, bem como vias públicas e algumas mentalidades, serem ainda da era comunista. Foi bom ter vivenciado essa Polónia com vestígios de outrora. A adesão à UE em 2004 trouxe consigo renovação e acesso a um estilo de vida mais próximo daquele que se vive na Europa Ocidental. Muita água tem ainda de correr debaixo da ponte para o nível de vida e de desenvolvimento chegar a patamares semelhantes aos da vizinha Alemanha ou mesmo àqueles que existem no Reino Unido, Irlanda, França e também, em muitos aspectos, aos que temos numa Espanha ou em Portugal. 

Dos novos países aderentes à UE, a Polónia é um dos que tem mais habitantes, são 40 milhões de polacos mais uns 10 milhões no estrangeiro, isto sem contar com os descendentes de polacos nos EUA. O mercado é apetecível e prova disso são alguns bem sucedidos investimentos portugueses em terras polacas. O Grupo Jerónimo Martins e o BCP tiveram aqui a agradável surpresa de se desenvolverem e com eles outros vieram e virão. Grandes investimentos foram feitos por australianos e austríacos mas todos querem ter o seu pé no território. Os EUA, Alemanha, Holanda, França e inúmeros países da Zona Euro pretendem consolidar a sua posição na Polónia. Vão havendo algumas "baixas" especialmente nos sectores de produção em favor de países asiáticos, sobretudo a China. O caso da Dell em Łódź foi um deles; uma empresa que deslocalizou da Irlanda para a Polónia, utilizou os benefícios dados pelo governo polaco aos investidores estrangeiros e que se retirou quase da noite para o dia (Taiwan) a partir do momento em que os mesmos acabaram. Portugal também perdeu inúmeros empregos na Indesit de Oeiras em favor de uma nova fábrica em Łódź.

Se naquele dia em que desci as escadas do avião e toquei solo polaco alguém me dissesse que dali a dez anos estaria a trabalhar na Polónia, casado com uma cidadã polaca e com dois filhos luso-polacos iria rir-me a bandeiras despregadas! O destino tem destas coisas e no meu caso dá quase a sensação de ser como uma reencarnação dentro da mesma vida.

Sinto falta de Portugal, obviamente. O nosso país é sempre o nosso país e a saudade uma característica intrínseca do povo português mas vivemos num tempo em que temos a possibilidade de nos deslocarmos praticamente para onde quisermos e só o futuro dirá se esta experiência é para continuar ou não...

Dez anos é muito tempo!


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