sábado, 6 de agosto de 2011

A singular beleza de Białowieza: por João Ferro*

Białowieza, este nome estranho para nós significa torre branca e fica num local sem torres e muito menos brancas podendo ser visto e sentido de diversas formas.


Geograficamente localiza-se no que é hoje a fronteira entre a Polónia e a Bielorrússia neste nosso nobre continente a que chamamos de Europa e é uma pequena aldeia com cerca de 2000 habitantes que fica no coração duma floresta a que se dá o mesmo nome. A aldeia propriamente dita dista 21 km da vila mais próxima de Hajnowka na entrada da floresta, a 66km da pequena cidade de Bialystok capital do verde estado de Podlaskie considerado como o pulmão da Polónia, estado este que se localiza no Nordeste do país e a 190km de Varsóvia capital da Polónia. 

Cientificamente como último remanescente na Europa da floresta temperada e pantanosa que antanho cobria as terras baixas pós glaciares que se extendem desde o norte dos Pirenéus em França até aos montes Urais na Rússia envolvendo todo o Mar do Norte e o Mar Báltico.

Nesta pequena porção remanescente de floresta restam espécies vegetais e animais que há muito desapareceram doutros locais numa interligação que só os entendidos ou os mais sensíveis conseguem de alguma forma vislumbrar. 

Interligação essa sem interrupção desde o último período glaciar que terminou há cerca de 10000 anos, o que quer dizer que esta floresta dura desde que foi criada pelas mudanças climáticas que terminaram o período geológico chamado de Pleistoceno e deram inicio ao período Holocenico que hoje vivemos. Podendo serem aqui encontradas inúmeras árvores monumentais com centenas de anos, delicadas flores, musgos, liquens e insectos que mal se vêem e só aqui existem pela pureza e antiguidade do ecossistema e espécies iconográficas como o bisonte europeu que foi salvo da total extinção no século XX aqui mesmo neste local e que hoje podemos desfrutar, admirar e legar as gerações futuras como símbolo do poder e beleza criativa da Natureza.

Por tudo isso e muito mais e considerada pelos cientistas como uma joia de património incalculável a preservar a todo o custo e que muitos visitam com o intuito de estudar esta rede maravilhosa de interligações de vida, morte e renascimento a que chamamos de Vida.

Historicamente, foi fundada algures no século XV pelo rei Wladyslaw Jagiello que por lá ordenou instalar um abrigo para as suas caçadas reais, desde então se foi desenvolvendo e sempre usada como local privilegiado e protegido para caça por quem dominou esta região historicamente conturbada com fronteiras tão volúveis quanto a força e os egos de quem mandava naquele instante histórico, com guerras e mais guerras que nada mais trouxeram senão miséria, morte e sofrimento. 

Nomes estes tão sonantes como o do Czar Alexandre I da Rússia, ou o de Hermann Goring da Alemanha nazi, ambos tão loucos como poderosos. O primeiro mandou construir uma linha de caminho de ferro luxuosa que ligava Moscovo a Białowieza com o intuito de a visitar uma vez por ano para as suas caçadas imperiais - para quem não faz ideia da distância poderemos dizer que seria mais ou menos o mesmo que construir a dita linha de Lisboa até Berlim só para lá ir dar uns tirinhos de vez em quando. O segundo como grande apaixonado de caça grossa tinha planos de extermínio e evacuação da população local para criar uma mega reserva de caça para seu bel-prazer e desfrute. Do primeiro resta hoje parte da linha de caminho de ferro, ainda transitável para fins turísticos, e o palacete que servia de estacado para o Czar hoje belamente transformado num luxuoso restaurante de comida regional e internacional. Do segundo nada resta senão a memória da sua passagem e dos seus planos.

Culturalmente situa-se numa região de transição entre a cultura polaca católica e a cultura bielorrussa ortodoxa, ambas coexistem de forma pacifica partilhando vivências, lugares e até o cemitério onde jazem lado a lado católicos e ortodoxos naquilo que a todos nos une definitivamente que é a morte.

Nesta região tanto se pode ouvir falar polaco ou bielorrusso, ler em caracteres românicos ou cirílicos e muitos cartazes estão em ambas as línguas. Pode-se ainda ouvir uma espécie de dialecto local produto da fusão e influência das duas línguas a que os forasteiros polacos lhes parece tão estranho quanto divertido, a mim claro está que me passam completamente ao largo estes pormenores linguísticos dos linguajares eslavos dos quais pouco entendo.

Merecem atenção os pormenores das casinhas típicas desta região sempre em madeira e ornamentadas com cores garridas e frisos de madeira artisticamente decorados ou as mais simples e sóbrias de telhados de colmo sempre com o seu quintal e horta privativos ladeados por originais sebes de madeira a fazer lembrar outros tempos que não voltarão. As igrejas essas claro mais monumentais mas não menos belas (as mais antigas e originais), tanto católicas como ortodoxas.

Na música é de vivenciar o saudosista festival de coros vocais ortodoxos com as suas melodias litúrgicas vindas do fundo da alma e algumas cantadas em eslavo antigo que está para os eslavos como o latim para os latinos. Friso também os muito pequenos festivais, autores e artistas locais que dão um colorido especial a vida cultural desta terra e que vão da escultura em madeira a pintura, fotografia e cinema.

Não esqueçam também a culinária local de delicias mil que tanto pode ser pesada e cheia de carnes ou mais delicada e mais a meu gosto confesso com cogumelos da época e vegetais de produção local não industrial que sabem a comida de verdade que não foi plastificada e servida para ser deglutida por alguém algures noutro canto do mundo sem alma, sabor ou qualidade.

O turismo nas suas muitas variantes é muito importante hoje em dia nesta região, à parte polaca afluem cerca de 200.000 visitantes por ano que aqui vêm para descansar, andar de bicicleta, passear a cavalo ou de carroça, andar de canoa nos inúmeros rios e ribeiros, caçar javali ou veado ou percorrer os muito trilhos abertos a pé ou os de guia obrigatória nas áreas de reserva integral. Ou seja desfrutar o que de bom a vida nos pode dar consoante os gostos e possibilidade de cada um quer seja num hotel de cinco estrelas ou num dos parques de campismo locais.

Já vai longo o texto e a vós não vos quero enfadar por isso e para concluir remato que vale a pena ver, ouvir, cheirar, sentir, falar, em suma experienciar esta terra que aos mais sensíveis estou certo não será indiferente e que em mim desperta a alegria de viver.

Deixo abaixo alguns links onde poderão aprofundar a vossa curiosidade.


http://en.wikipedia.org/wiki/Bia%C5%82owie%C5%BCa_Forest

http://en.wikipedia.org/wiki/Bia%C5%82owie%C5%BCa

http://www.staypoland.com/about_bialowieza.htm

http://bpn.com.pl/index.php?Itemid=178&id=104&option=com_content&task=view&lang=en

http://en.poland.gov.pl/Bialowieza,National,Park,8309.html

http://www.wejmutka.pl/eng/



* João Ferro é mais um dos emigrantes portugueses na Polónia e está ligado a Białowieza por motivos particulares. O texto é totalmente da sua autoria.


Obrigado amigo João!

1 comentário:

Sérgio F. disse...

Viva,

Quando estive na Polónia de férias no Verão passado estive em Byalstok por causa deste parque natural mas a cidade é aterradora e não vi modos de descobrir o tal parque...mas para quem já esteve nesta cidade verificou de certeza que está rodeada de natureza, bosques e espaços verdes.