quinta-feira, 2 de junho de 2011

Coisas de portugueses

Houve um português residente na Polónia - não o vosso escriba - que mobilizou um polaco e um polaco-brasileiro que visitaram o nosso país para que lhe trouxessem umas fatias de bacalhau. Os dois, algo desconhecedores da iguaria tão típica do país de Vasco da Gama, acederam apesar do notório receio que o dito lhes deixasse a bagagem com um cheiro nauseabundo. Tudo foi bem embrulhado em sacos de plástico e o bacalhau entregue em mãos. Estes são alguns dos hábitos e necessidades do português emigrado.

Li hoje num dos fóruns mais activos e completos da Internet portuguesa, o fórum da revista AutoHoje, que alguém foi a uma companhia de seguros para fazer um seguro de viagem e ficou surpreendido com a observação da senhora que o atendeu. Ao que parece há uma verdadeira corrida a seguros de viagem, será isto um indicador de uma nova vaga de emigração? Muito provavelmente. A Alemanha abriu recentemente o seu mercado de trabalho e inúmeros portugueses vão tentar a sua sorte nesse país e noutros que oferecem melhores condições de vida. A Europa tornou-se, nalguns casos, uma espécie de Estados Unidos da Europa, e do mesmo modo que alguém nos EUA se muda de Nova Iorque para Atlanta ou de Chicago para Los Angeles, nós, os europeus da UE e do Espaço Schengen, fazemos o mesmo só que de país para país. A distância já não se conta propriamente em quilómetros mas sim em horas de voo e aquela visão aterradora do emigrante ao volante do Renault "Vingt-Cinque" com uns palitos a segurar as pálpebras é coisa do passado - com as suas excepções, claro está...


O que não muda são as saudades e aquelas particularidades transversais à maioria dos portugueses. A saudade do sol e da comida, com especial destaque para o bacalhau, os enchidos, o azeite e o vinho. O azeite português é de facto difícil de encontrar a bom preço e em variedade mas os espanhóis e os italianos tomam conta do mercado e têm produtos bons. O bacalhau seco e salgado não se encontra mas o fresco - ou congelado - sim, como se fosse pescada. Falta-lhe contudo o sabor característico. Outro marca da Portugalidade é o "arrozinho" de estrugido (os polacos em geral metem os saquinhos de arroz na água a ferver e está a andar), o aroma a café pela manhã e num recanto uma pequena garrafeira onde a vista mais atenta repara que os rótulos são de vinhos Product of Portugal...

Outro hábito é o da bola. Como já escrevi noutras ocasiões não sou o companheiro ideal para discutir o assunto mas aprecio aquelas discussões acaloradas entre portugueses alternadas com piadas fáceis - por vezes surgem questões técnicas sobre ângulos a roçarem a geometria - e de preferência tudo com cachecóis dos três grandes clubes. A acompanhar há quem tenha umas Superbock guardadas religiosamente no frigorifico e uns tremoços para recriar o ambiente de uma casa portuguesa, com certeza... 

Os impropérios são também um modo de identificar se se pertence à tribo, se o patrício depois de uns copos ou depois de conhecer "a malta" não é capaz de dizer um foda-se ou um caralho em vez de um ponto final então, das duas uma, ou é um individuo extremamente enfadonho (um martelão - martelon - como se diz no Minho) ou um daqueles deslocalizados que trabalham numa das multinacionais portuguesas na Polónia.

Na Polónia outro traço identificativo é o andarem devagar - nas calmas - quando está gelado lá fora e os polacos em contrapartida voam baixinho para aquecerem e entrarem o mais rápido possível nos edifícios, nos carros ou nos transportes públicos. Também temos os "cromos" que colocam o pullover nos ombros ao estilo legionário, usam os sapatos de vela e camisa aos quadrados, se bem que são cada vez menos.

Dos Invernos gelados da Polónia e da República Checa aos grandes centros industriais da Alemanha passando pela chuvosa Irlanda e a organizada Suíça e Copenhaga ou cidades multiculturais como Londres, Paris e Amesterdão os portugueses emigrados aumentam cada vez mais, o facto é constatável mas o governo ignora sistematicamente a debandada com a diferença de que o país fica mais pobre e os portugueses analfabetos ou com a quarta classe que outrora representaram o país no estrangeiro praticamente não existem e cada vez menos tencionam emigrar para poupar, emigra-se para viver a vida. Os tempos são outros, ainda há quem não tenha reparado nisso.





2 comentários:

Anónimo disse...

ja a bacalhau no biedronka :) e queijo saloio :)

Max disse...

Português que é Português TEM de comer bacalhau :-)
Eu como TODAS AS SEMANAS (a sério, não vivo sem isso). Quando fui trabalhar na Croácia por dois meses em 2010 ia-me dando uma coisa com a falta de peixe, especialmente do bacalhau. Azeite já nem digo nada e imagino que na Polónia seja idêntico.
Felicidades compatriota.