segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

As voltas que a vida dá!

Que me recorde em Vila Nova de Famalicão, durante os vinte e quatro anos em que lá cresci e vivi, só vi neve a cair umas duas ou três vezes. Uma dessas vezes, algures no principio dos anos oitenta, foi um dia de grande alegria para todos os famalicenses, especialmente para as crianças. 

Ver a cidade de Famalicão coberta de branco não é uma visão comum, o clima ameno de Portugal permite que a maior parte do ano se veja verde e, imagine-se, palmeiras! Nesse dia em que caiu neve mais copiosamente nem sabíamos bem o que havíamos de fazer excepto tocar e sentir o frio gelado da água transformada em cristais de gelo.

 O alegre menino de "Kispo" preto estava longe de imaginar que um dia iria viver num país onde, durante uma parte do ano, a neve cai abundantemente.

Quem acabou por fazer a festa foi o meu tio Benedito que, nessa altura, conduzia um inesquecível Citroen Dyane Nazaré, e foi o líder da ida ao monte de Santa Catarina (também conhecido como Monte do Facho.) Lá fomos por ali acima, o meu tio no Dyane e o meu pai no seu Fiat 128 vermelho. Fizemos um boneco de neve, jogamos à pelota e ainda fomos arrastados pela neve num improvisado trenó de ramo de eucalipto. Parece que ficamos todos vermelhos na cara e extenuados depois de tal aventura que só viria a experimentar de novo passados mais de vinte anos num país que, nesses tempos, era ainda satélite da URSS e como tal "inimigo" dos EUA, os nossos aliados do lado de lá do Atlântico que tinham bombas nucleares como os russos...

Estava-se em plena Guerra-Fria mas isso passava-nos ao lado. Da Polónia sabíamos que haviam uns desenhos animados que Vasco Granja da RTP fazia questão de mostrar e, por vezes, no noticiário, lá víamos um tal de  Walesa a fugir num Fiat 125. Os Comunistas intitulavam-se como os libertadores do Portugal  fascista e  na televisão víamos os mesmos como tiranos da Europa de Leste e da URSS.

Já em pleno século XXI, na era da Internet, do Youtube, do Facebook, dos telemóveis e dos iPhone, da UE, do Espaço Schengen e de um presidente dos EUA negro, com uma Rússia federativa  e uma China pró-capitalista, temos inclusivamente portugueses na Polónia.
Nunca ninguém imaginaria que um dos miúdos que estava no ramo de eucalipto iria, volvidos muitos anos, andar a puxar trenós em temperaturas negativas ou a ter de andar com uma pá para cavar neve dos lugares de estacionamento ou para sair de apuros quando os pneus não lidam mais com a neve. Isto tudo deve ser o tal milagre da construção europeia, uma Europa sem fronteiras. Quando era criança sem fronteiras só mesmo os jogos, os Jogos sem Fronteiras. 

 Os apetrechos são outros. Na Polónia há uma imensa escolha de utensílios para se usar na neve e igual número de desportos de Inverno. A criançada em particular diverte-se nestes dias e os pais sempre perdem umas calorias...

Para os meus filhos exótico deverá ser a areia  a escaldar na praia, as palmeiras nas ruas e Invernos com temperaturas que podem chegar aos 20 positivos. A mãe deles chegou a experimentar isso e a telefonar para a Polónia contando que, em pleno Inverno, era possível tomar o pequeno-almoço na varanda da sala, numa soalheira manhã de Domingo. Como a compreendo! A minha varanda do apartamento de Łódź está neste momento coberta de branco e uma toalha esquecida congelou ficando com uma forma curiosa.

Neve passa a ser śnieg e o país distante agora é Portugal. As voltas que a vida dá!




3 comentários:

Ryan disse...

Amigo... sempre gostei de ver desportos de Inverno desde crianca. Hoje o jeito para tais desportos e o mesmo que tinha para o futebol apesar de ser um adepto modesto deste desporto. Por acaso la para os idos de 80 e tal no Alentejo lembro-me de ter visto neve pela primeira vez. Fiquei maravilhado, aquilo parecia uma coisa dos filmes. So que agora temos o filme todos os dias ate Marco ou o caracas. E bonito ver a neve mas em especial quando ela cai. Depois quando comeca a derreter as ruas ficam porcas cheias de lama e nao tem mais piada. Pior mesmo so o frio... isso sim ja vou no meu quarto Inverno mas nao ha meio de me habituar ao frio... haver ate ha... ha polacas que me aquecem!!!

mana disse...

Ohhh Ricardo,

Agora és rena...

Beijinhos da tua irmã

Maria M.

PM Misha disse...

tantas vezes que eu penso no mesmo. e as voltas que nós damos a nós mesmos para nos adaptarmos a essas coisas...