Há noticias que nos chocam pelo facto de nos identificarmos - de algum modo - com elas. Este fim-de-semana os principais diários portugueses destacaram um trágico acidente de viação (mais um dos muitos) em Portugal, no fatídico IP4. Um Renault Megane ultrapassa um autocarro com atletas e não evita o toque num pequeno Skoda Fabia que seguia do outro lado da estrada, na sua mão, correctamente. O despiste foi inevitável e a colisão do Skoda com o autocarro provocou a morte dos quatro passageiros do ligeiro; três deles eram cidadãos da Polónia. Um rapaz e duas raparigas. O condutor era português.
Por um lado conheço a realidade portuguesa e a "guerra civil" nas estradas do meu país, por outro conheço a Polónia e os polacos e fui, em tempos, um estudante Erasmus, como eles. Ao longo dos trinta e um anos em que vivi em Portugal assisti, ouvi e li sobre inúmeros acidentes nas estradas portuguesas. Conduzir em Portugal é aceitar que não há privilegiados, que não é o facto de termos oito airbags e estarmos "atados" dentro de um carro que nos pode salvar as vidas. Não há garantias de nada. Só a esperança que tudo corra bem e uma condução defensiva nos podem tranquilizar.
Maciej Hussak, Monika Rosinska e Edyta Rozanska eram três estudantes polacos em Portugal. Chegaram ao nosso solarengo país, como tantos outros, na busca de novas aventuras e desejando embeber-se naquilo que temos de melhor. Estiveram no Algarve, divertiram-se e terão, com certeza, admirado a beleza do nosso Atlântico, molhado os pés no mar e ouvido o bater da ondas, imagino que terão apreciado detalhes que para nós, portugueses, nos passam ao lado. Não há palavras que cheguem nem consolos suficientes. Esta noticia é sentida como se fosse vista pelos dois lados. Tragedia to był.
Tal como o Nuno Bernardes disse no seu blogue já não sabemos bem onde está a nossa casa, já somos um pouco dos dois países. "É tempo de voltar a casa… até que eu venha a casa de novo." É uma sensação estranha esta, como se fosse uma vida dentro de outra vida. Pensamos porque motivo estamos na Polónia, porque viemos aqui parar e também porque razão deixamos para trás o mar, a comida, o sol e os nossos sítios. Faz-me imensa falta o mar e o Báltico não preenche esse vazio. O Báltico é um mar de facto mas falta-lhe o vigor do Atlântico. O Atlântico é um oceano e quem vive perto dele sabe como uma vaga, em altura de mares-vivas, pode arrastar o que quiser e fazer desaparecer para sempre quem o desafiar. Por isso Fernando Pessoa escreveu:
Maciej Hussak, Monika Rosinska e Edyta Rozanska eram três estudantes polacos em Portugal. Chegaram ao nosso solarengo país, como tantos outros, na busca de novas aventuras e desejando embeber-se naquilo que temos de melhor. Estiveram no Algarve, divertiram-se e terão, com certeza, admirado a beleza do nosso Atlântico, molhado os pés no mar e ouvido o bater da ondas, imagino que terão apreciado detalhes que para nós, portugueses, nos passam ao lado. Não há palavras que cheguem nem consolos suficientes. Esta noticia é sentida como se fosse vista pelos dois lados. Tragedia to był.
Tal como o Nuno Bernardes disse no seu blogue já não sabemos bem onde está a nossa casa, já somos um pouco dos dois países. "É tempo de voltar a casa… até que eu venha a casa de novo." É uma sensação estranha esta, como se fosse uma vida dentro de outra vida. Pensamos porque motivo estamos na Polónia, porque viemos aqui parar e também porque razão deixamos para trás o mar, a comida, o sol e os nossos sítios. Faz-me imensa falta o mar e o Báltico não preenche esse vazio. O Báltico é um mar de facto mas falta-lhe o vigor do Atlântico. O Atlântico é um oceano e quem vive perto dele sabe como uma vaga, em altura de mares-vivas, pode arrastar o que quiser e fazer desaparecer para sempre quem o desafiar. Por isso Fernando Pessoa escreveu:
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quere passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quere passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
Onde quer que estejam, nesse dito "lado lá" tenho a convicção que o Maciej, a Monika e a Edyta terão achado que tudo valeu a pena.
5 comentários:
Podias citar a fonte da notícia em vez de recitar um poema?
Talvez se o anónimo "clicasse" no link "trágico acidente de viação" fosse redireccionado para a notícia em questão.
Caro Ricardo, estive um ano a fazer erasmus em Lodz.
Talvez por isso senti com mais pesar a noticia do falecimento destes jovens polacos.
Abraços
Isto realmente eu não noto melhorias na condução aqui em Portugal. Talvez nas nacionais se ande um pouco menos depressa, mas ultrapassagens mal calculadas vejo-as de todas as vezes que faço os 90km entre minha casa e Lisboa, numa nacional. Bem que faço sinais de luzes, mas o tanas é que eles abortam a ultrapassagem. Lá tem um tipo de travar para a coisa não correr mal. Uma vergonha.
é lamwentável, tanto o primeiro comentário anónimo como o acidente em si.
fiquei muito preocupado porque tenho muita gente que vai fazer erasmus a portugal, concretamente para vila real que é um destino preferido por muitos estudantes polacos. não conheço as vítimas do acidente mas não deixo de endereçar os meus profundos sentimentos aos afetados pela tragédia.
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