domingo, 20 de junho de 2010

Saramago nie żyje – Saramago morreu



José Saramago morreu idoso, 87 anos de vida é realmente muito tempo. Deixa um espólio literário vasto e mais teria deixado se o seu corpo não tivesse perecido com aquilo que muitas vezes dizemos, em jeito de eufemismo, de „doença incurável”. A imprensa polaca referiu a morte do escritor portugues, sem grande parangonas, como e óbvio, mas referem-se a Saramago e a algumas das suas obras que podemos encontrar nas estantes de livrarias polacas e até em supermercados como por exemplo “Miasta ślepców“ ou Ensaio sobre a Cegueira.

Assumo publicamente o grande handycap de nunca ter lido um único livro do autor, o nosso Prémio Nobel da Literatura. Tentei ler o Memorial do Convento quando era adolescente (estava era mais interessado em raparigas e carros) mas uma meia-duzia de palavras mais rebuscadas – nem foi o caso da pontuação e estilo- levaram-me a poisar o livro na estante. Mais recentemente consegui um PDF com o Ensaio Sobre a Cegueira mas ainda não há nada que substitua o prazer de manusear um livro, nada como sentir a rugosidade do papel nos dedos, o cheiro do livro ou o simples acto de colocar uma marca na página em que o deixamos de ler, porventura fazer anotações ou mesmo uma dedicatória.

Cito parte do artigo escrito acerca de Saramago pelo Nuno Bernardes no seu blogue, um apontamento interessante sobre o escritor e Portugal:

“Os brandos costumes portugueses não gostam de personagens de moto próprio e cientes da sua grandeza por isso não gostaram de Saramago tal como não gostam de Mourinho, a corrente do nacional porreirismo nunca foi compatível com a falta de vocação de Saramago para os amens que o Portugal cristão gosta de dar para cumprir o azedo “Pátria, Deus e Família”, os desalinhados incomodam (..)“

O Evangelho Segundo Jesus Cristo, lançado no ano de 1991, foi uma espécie de Código de Da Vinci, antes do seu tempo. Chocou pela descrição do romance de Jesus com Maria Madelena e por „humanizar“ a figura de Cristo. Cavaco Silva, o actual Presidente da República – e então Primeiro-Ministro – manifestou abertamente o seu desagrado, o livro foi censurado pelo Governo e José Saramago, ressentido, decidiu viver em Espanha, na ilha de Lanzarote, com a sua companheira Pilar – como se estivesse no exílio. Nesse aspecto compreendo-o. Por vezes o nosso país parece tratar-nos de tal modo que só a distância e um „não te quero ver mais“ – mesmo que seja dito sem real intenção – soluciona e cala essa revolta.

Os anos passaram a galope, o Cavaquismo foi rapidamente esquecido mas Saramago e a sua obra continuaram a dar que falar especialmente depois do Nobel em 1998. O poeta ficaria em Espanha até à sua morte e Cavaco Silva, um católico devoto – ao qual Saramago uma ocasião disse publicamente que se o visse não o cumprimentaria - não estará presente nas exéquias fúnebres. No site da Presidência da República Portuguesa apenas uma quase-nota de rodapé se pode ler:

Presidente da República enviou condolências pela morte do escritor José Saramago

O Presidente da República enviou uma mensagem de condolências à Família do escritor José Saramago.

É o seguinte o teor da mensagem do Presidente:

"Escritor de projecção mundial, justamente galardoado com o Prémio Nobel da Literatura, José Saramago será sempre uma figura de referência da nossa cultura.
Em nome dos Portugueses e em meu nome pessoal, presto homenagem à memória de José Saramago, cuja vasta obra literária deve ser lida e conhecida pelas gerações futuras.
À Família do escritor, endereço as minhas mais sentidas condolências.
Aníbal Cavaco Silva"

Morreu um marco da literatura portuguesa, despede-se dizendo: “Sairei, de mão dada, com essa criança que fui”.

1 comentário:

Ryan disse...

Desculpem-me mas acho que o escritor foi alguém que afinal de genial não tinha muito. Sei que muito Português não gostará da minha análise assim como não gostei dos livros dele. Esse tal Evangelho segundo Saramago foi a reposição do tão antigo "Santo Graal". Depois veio um tal de Brawn e voltou também para ser coerente. Se eles não creiam é problema deles. Se eu creio é problema meu. Não sendo Católico tenho para mim que essa personagem que escrevia quiz um certo protagonismo. Eu sei que isso é uma das buscas de muita gente. Pior ainda foi insistir no mesmo noutros livros. Sendo assim acho que o homem não era de todo genial. Mas como foi Prémio Nobel então alcançou o título de génio. Outros escritores nossos não ganharam prémio Nobel e mereciam-no muito mais do que esse senhor que faleceu.
Desculpem mas acho que o homem talvez tenha tempo de ser original e escrever livros.