quinta-feira, 27 de maio de 2010

É oficial...

Resido na Polónia, deixei de ter a minha cidade portuguesa no Bilhete de Identidade. Vila Nova de Famalicão foi substituída por um país, passei a ser residente na Polónia, tanto faz que seja em Łódź, Varsóvia, Cracóvia, Gdańsk, Częstochowa, Szczecin, Zakopany ou uma qualquer aldeia ou lugarejo perdido entre pradarias e florestas - o português Ricardo Taipa habita algures nesse país da Europa Central.

Neste artigo tenho, antes de mais, de agradecer ao Paulo Oliveira de Varsóvia pela sua ajuda, a qual não chegou a ser precisa pois lá arranjei um dia para ir ao consulado de Portugal na Polónia. Nestes pequenos gestos sentimos o verdadeiro sentido daquilo que é, ou deve ser, uma comunidade portuguesa. Paulo, obrigado por te disponibilizares para ir buscar o meu Bilhete de Identidade ao consulado.

Esta viagem relâmpago à capital (calha sempre em dias em que tenho de ir buscar o Manuel ao infantário por isso tenho o tempo contado) foi três em um; serviu para ir levantar o Bilhete de Identidade - o Cartão do Cidadão ainda não chegou ao estrangeiro - para registar (finalmente) os petizes como cidadãos portugueses e também para me recensear nos cadernos eleitorais dos emigrantes. Foi tudo célere e com a simpatia do costume. Como fui com a minha mulher, pois isto dos registos exige a presença de ambos os pais, acabou por ser uma conversa meio em português e meio polaco.
No placard informativo dois nomes conhecidos, o Rui Vilela a anunciar e a requisitar a divulgação do fórum da comunidade portuguesa na Polónia e o Nuno Bernardes como professor da Escola de Línguas Românicas em Varsóvia.

O registo de luso-descendentes é simples e requer a cópia da certidão de nascimento do pai ou mãe portuguesa, uma cópia da certidão de casamento e a certidão de nascimento da criança(s). Com o recenseamento eleitoral foi também rápido e apenas exige o preenchimento de uma folha A4 com os dados pessoais. O Bilhete de Identidade é que se torna mais caricato. Se por um lado o documento foi enviado rapidamente pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, por outro continuamos a ter o velhinho e desajeitado documento de identificação que mal cabe na carteira, cheira a caruncho e a repartições bafientas com o retrato de Oliveira Salazar, Américo Tomaz e a cruz de Cristo na parede onde se ouve o matraquear  de máquinas de escrever e funcionários públicos tristes e sós. 

A Paula (a minha mulher) conhece relativamente bem a capital, já lá trabalhou e passou, durante a sua meninice, parte das férias do Natal na casa de uma tia, ali a dois passos do Palácio da Cultura e da sombria estação de Warszawa Centralna. Oiço sempre com atenção a descrição da Polónia durante o Comunismo. Dizia-me ela, enquanto atravessamos de eléctrico a ponte Príncipe Josef Poniatowski e víamos as recentes inundações do Vístula, que há quase 30 anos atrás não havia tantas cores como hoje em dia, era tudo em tons de cinzento e aquela pequena menina tinha em Varsóvia acesso a um mundo que em Łódź não se encontrava como por exemplo a loja de brinquedos Smyk. A Varsóvia de hoje conserva o Palácio da Cultura como ícone da PRL (República Popular da Polónia) mas é uma capital que fervilha de actividade e onde as obras do Estádio Nacional invadem a paisagem com gruas e camiões carregados de pedras e areia - perguntamos-nos se vão conseguir acabar as obras antes do campeonato de futebol de 2012.

No breve contacto que tive com alguns varsovianos, em quiosques e guichés, fico com a sensação que ali não há gente muito simpática, não olham nos olhos, não dizem bom dia e esquecem o obrigado. As pessoas deslocam-se a uma velocidade que em Łódż não costumo ver, na capital da Polónia todos estão com pressa, ninguém quer esperar dois ou três segundos para que a luz verde na passadeira acenda,  tocam freneticamente no botão para accionar a luz verde para os peões, mal os carros param e o sinal de peões ainda está vermelho já estão a atravessar, ouvem-se muito mais buzinadelas e pneus a chiar. No entanto  muitas coisas são mais modernas e o asfalto no centro da cidade está impecável - ao contrário de Łódż que, mesmo em zonas do centro, tem uma estrada no meio de remendos e buracos.

O regresso foi feito a partir da estação de Warszawa Wschodnia, um outro ícone da PRL com um aspecto tipicamente Orwelliano. 

O comboio era dos antigos, com compartimentos individuais e com aquele típico cheiro a velho, assentos e cortinas grossas e verdes, painéis a imitar madeira, janelas que abrem a custo e fecham-se sozinhas, puxado por uma velha locomotiva. Recordou-me de imediato os meus tempos de estudante Erasmus nos quais descobri a Polónia, onde conheci  e experimentei muitos dos seus atractivos... 

Uma travagem pouco suave num apeadeiro qualquer traz-me de volta a 2010, os tempos do Erasmus são apenas uma recordação, estou a fazer a minha vida na Polónia, trabalho na cidade onde estudei entre 2001 e 2002, casado com uma polaca que conheci nesses tempos, pai de dois luso-polacos... Tempus Fugit!








11 comentários:

PM Misha disse...

Witam ze stolicy!

Já recebeste o postal da Embaixada?

Geraldo Geraldes disse...

Com isto és mesmo um emigra. A qualquer sítio onde vás em Portugal e te tenhas de identificar, já tás marcado. Qual o passo seguinte: pedir dupla-nacionalidade? Mudar nome para Ryszard ou Taipówski?

Ricardo disse...

@ Misha. Recebi hoje mesmo o postalito e gostaria imenso de ir, foi a primeira vez que recebi o convite para o Dia de Portugal.

@ Fernando. Porra... Taipowski ou Taipowicz não, muito menos Rysio! :))

Os putos já têm dupla nacionalidade mas o progenitor fica com a sua, obrigado.

Paulo Soska Oliveira disse...

:)

PM Misha disse...

tens o número, dá o toque q:)

Ryan disse...

Na Segunda-Feira seguinte à morte do Presidente fui a Varsóvia buscar o meu novo BI. Já imigrei à uns anos mas pela primeira vez tenho documentação que me clasifica como imigrante também. Dupla nacionalidade na União Europeia para quê? Se tivesse que trabalhar para o Estado Polaco ou coisa do género talvez mas não vem ao caso.

Anónimo disse...

Ricardo: não queiras a bodega dos cartão do cidadão. Toda a gente que o tira fica c cara de cão, como se a foto tivesse sido tirada através do "olho mágico" da porta de casa. Eu, felizmente n o tenho ainda e qdo tiver q o tirar, vou pensar seriamente em fingir q perdi o anterior.

Trust me: it sucks; não é por acaso que é designado como CU (cartão único)

InêsPL

Anónimo disse...

Olá Ricardo! Fiquei tão satisfeita por encontrar o teu blog que nem imaginas! :)

Ontem à noite, nas Amoreiras, juntámos um grupo de amigos para decidir férias e marcámos avião e estadia na Polónia! :)

4 dias em varsóvia e 3 em Cracóvia, se não me falha a memória.

Gostava, se pudesse ser, que me desses dicas... o que devemos ver, onde devemos comer, quais os pratos ou bebidas típicas, quais os souvenires típicos, etc.

De Varsóvia a Cracóvia vamos em 2 carros alugados, pelo que se houvesse alguma terriola gira pelo meio que merecesse um desvio (não muito longo) seria interessante também.

A viagem vai ser na 2ª semana de Agosto.

Obrigada. Se puderes envia mail para barbaruska74@hotmail.com

Fátima Mariano disse...

Boa tarde, sou jornalista no Jornal de Notícias e procuro emigrantes da chamada nova vaga para reportagem a publicar no próximo domingo. Será que me podia contactar pelo fmariano@jn.pt ?

Obrigada

Ricardo disse...

@ Barbaruska74. Melhor do que os meus conselhos o ideal é visitar o fórum da comunidade portuguesa na Polónia onde estão algumas dezenas de portugueses residentes na Polónia. Inscreve-te e faz-nos perguntas. Espero-vos lá e quero ver um diário de bordo dessa viagem!

http://www.portuguesesnapolonia.pl/

@ Fátima Mariano. Enviei e-mail para o endereço.

Geraldo Brito (Dado) disse...

Saudações e parabéns pelo blog!