segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Regresso ao Futuro

 

4 de Dezembro de 1974 

 


31 de Janeiro de 2010

Ambos os bebés nas fotografias têm um aninho. O primeiro escreve-vos estas linhas e o segundo é filho do primeiro. Na primeira fotografia estávamos em Luanda sem saber que, a menos de um passo, estava a chegar ao fim o Império Ultramarino Português; mais quatro meses e uma revolução em Lisboa poria fim ao Estado Novo e a uma vida em África para mais de 1 milhão de portugueses fazendo com que nunca viesse a conhecer Angola da qual não guardo uma simples memória  - apenas histórias contadas na terceira pessoa.
Poucos meses depois desta fotografia ser tirada a minha mãe, com a minha irmã mais velha, partia angustiada para Portugal, num Jumbo da TAP, deixando para trás o seu marido a tratar de assuntos relativos à sua situação profissional no Banco de Angola. Éramos, do dia para a noite, mais uma família de "retornados" tal como outras famílias que se encontraram repentinamente no furacão africano das independências e no conturbado regresso à chamada metrópole que via com maus olhos a "invasão" dos colonos e era incitada pela Esquerda Marxista-Leninista num país que estava à beira de uma guerra civil. 

O rapaz de óculos na fotografia de 1974 - que tem parecenças comigo - é o meu tio e padrinho acompanhado da minha madrinha - tinham sensivelmente a mesma idade que tenho agora, a minha mãe (então com 28 anos) segurava um Ricardo de fraldas e sem roupa pois em África o calor assim o pedia. Ao lado a minha prima e o meu tio Benedito que foi para o Ultramar através do serviço militar e por lá ficou até 1974 e ainda outra tia que mal sabia que dali por uns meses estaria de malas aviadas a caminho do Brasil só regressando a Portugal já bem dentro dos anos oitenta.
Coca-Cola (nas colónias não era proibida) e cerveja angolana Cuca (parece que mais tarde foi parar a Cuba como pagamento pelo esforço de guerra cubano) a par com uns bicos de pato com fiambre ou fatias de presunto enfeitavam a mesa.  

Passados 36 anos um outro bebé Taipa completa um aninho num país com Invernos frios, onde neva e que foi outrora parte do Bloco Soviético. O Marcel é Luso-Polaco tem um pai português, mãe polaca, avó portuguesa e outra polaca, na mesa não estava Coca-Cola nem Cuca mas sim vinho português (meio adocicado), sumo e água mineral; a televisão (que  raramente ligamos) ainda não estava presente naquela casa em Luanda - nem sequer havia sinal televisivo - e ligações vídeo entre países, feitas através de um computador portátil, nem sequer se viam no Buck Rogers ou nos filmes de ficção cientifica da época.

Os padrinhos, agora septuagenários, enviaram uma mensagem SMS de parabéns enviada via-satélite e recebida instantaneamente num pequeno telefone portátil com um pequeno "televisor a cores" que já ninguém parece dispensar - há 36 anos o próprio telefone era quase um artigo de luxo e havia sempre um café onde se podiam fazer chamadas telefónicas a pagar aos impulsos.
Nos bolsos de um homem dos anos setenta estaria provavelmente uma carteira com documentos (BI, Carta de Condução e o cartão de sócio do Benfica ou do Sporting - o futebol português nesses tempos eram os "dois grandes" e não os "três grandes"), moedas e notas, um maço de tabaco, fósforos ou um isqueiro Dupont, as chaves de casa e do NSU.

No homem do "ano 2000" já não há bolsos que cheguem; temos o telemóvel, a carteira com documentos, cartões de crédito ou de débito, o cartão dos pontos para a gasolina, o dos pontos para a farmácia e outro para o café e para o ginásio, recibos de supermercado e talões vários perdidos em pequenos compartimentos, para os que ainda fumam um isqueiro a gás descartável e um maço de tabaco com letras garrafais a dizer FUMAR PODE MATAR, uma PenDrive (ou duas), as chaves do carro que são enormes e têm uns botões para abrir as portas e a mala ou também aquelas que parecem um cartão de crédito, as chaves de casa que são pesadas, várias e enormes por causa do fecho de segurança... enfim, o homem do ano 2000 tem de consultar o correio todos os dias mas já não abre cartas de papel nem perde o seu tempo a colar selos e envelopes, faz um clique e vê as fotografias das férias dos amigos e conhecidos num computador... 

Estamos na União Europeia, num mundo globalizado. A Polónia já não é comunista há 20 anos e Portugal deixou de ter colónias e territórios ultramarinos. 36 anos é de facto muito tempo! Como será o mundo daqui a outros 36? 

1 comentário:

Anónimo disse...

Ai q ricos bicos de pato!!!

Parabéns ao filho e aos pais.

Bjns

Inês PL