domingo, 20 de dezembro de 2009

O Trabalho (de roubar) Liberta




Nalguns países vizinhos da Polónia os polacos têm fama de ladrões. Custa-me escrever isto no meu blogue tendo uma família polaca e estando para sempre ligado a este país que tão bem me acolheu. Os estereótipos são assim mesmo; revestem-se muitas vezes de crueldade ou ironia - afinal nós, os portugueses, também não nos livramos da fama de sermos infiéis às mulheres...

Ocorreu um roubo impensável apesar de, há alguns anos atrás, uma ponte ter sido roubada e vendida como sucata. No campo de concentração de Óswięcim (Auschwitz) foi roubada a inscrição do portão principal com a célebre frase da obra do escritor alemão Lorenz Diefenbach - Arbeit Macht Frei (O Trabalho Liberta). Esta frase era colocada amiúde no gradeamento dos campos de concentração Nazi (não só em Auschwitz) pois estes eram supostamente locais onde os judeus deportados iriam trabalhar e dedicarem-se a actividades enquanto a guerra rugia.

A semanas do grande evento do aniversário da libertação do campo de concentração o roubo não poderia ter sido mais inconveniente numa Polónia que se quer afirmar numa UE céptica dos países ditos "de Leste" e pouco crente no sucesso do Euro 2012 em terras polacas e ucranianas. O frenesim está a dar que falar na imprensa e o próprio Benjamin Netanyahu exige que os polacos encontrem as letras urgentemente argumentando o significado simbólico das mesmas dentro do contexto do denominado Holocausto.

Quem conhece a Polónia e os polacos não pode deixar de achar algo caricatas as circunstâncias do roubo, a vigilância patética, as medidas serôdias da policia e serviços secretos polacos e a recompensa inicial de apenas 1100 zlotys - a recordar-nos cenas deliciosas de filmes-culto polacos da era comunista como Rejs, Miś e Seksmisja.

A angariação de fundos para a conservação deste património da humanidade tinha dado os seus resultados com a Alemanha a prometer uma injecção de capital de alguns milhões de Euros nos cofres da sociedade responsável pelo museu e conservação de Auschwitz. A famosa placa estava vigiada com uma camara de computador ligada à internet sem ter sequer registo das filmagens e com uma qualidade de imagem duvidosa!

A verdade é que as acusações disparam, qual tiro no escuro, em todas as direcções, desde serem os sucateiros polacos (só imaginei aqueles bêbados com o carrinho de mão cheio de metal a venderem tudo em troca de uma garrafa de vodka Royal) que foi aliás uma hipótese já colocada de parte, aos neo-Nazis, milionários excêntricos, ex-residentes do campo em acto de vingança, a própria sociedade responsável pela manutenção a querer chamar as atenções e até alguém que trabalhava no mesmo e arranjou um esquema para enriquecer rapidamente. No entanto e para já não apareceu a malfadada placa nem ninguém tem ideia de onde possa estar. Foi entretanto substituída por uma réplica construída de propósito para quando a original é reparada.

Houve um atraso considerável no reportar o roubo as autoridades, o suficiente para os meliantes a terem levado para fora da Polónia "Schengen" sem grandes entraves. A placa tanto pode estar na Polónia, como na Alemanha ou em Lisboa.


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