Um instantâneo. Um condutor polaco pára o seu 126P para observar o que se passa no pequeno motor.
Quem conhece ou já visitou a Polónia deve ter reparado num pequeno automóvel bastante popular nas estradas e ruas da Polónia, trata-se do Fiat 126 P - o P significa Polski (polaco).
Para os que aqui moram e fazem as suas vidas deixa de ser algo em que reparamos e damos importância, sabemos que se trata de um Maluch (o Fiat "Pequenino" como carinhosamente lhe chamam os polacos) e que são aos pontapés, no entanto tenho vindo a reparar que, a cada ano que passa, os pequenos carrinhos são cada vez menos, estarão a entrar em vias de extinção?
Em 2001, quando aqui aterrei pela primeira vez, foi o primeiro carro que reconheci a partir da janela do avião, era noite e passava junto à pista do aeroporto Okęciem um Maluch amarelo torrado, e notem que estava em Varsóvia onde o parque automóvel é substancialmente mais variado, melhor e mais moderno que em muitas outras cidades do país, inclusivamente Łódź. Nessa altura ainda se viam a circular muitos - mesmo muitos - Fiat 126 P.
O que me chamou a atenção neles é que a maioria se encontravam bastante enferrujados e por vezes com o capot de uma cor, uma porta de outra ou mesmo com um pau a segurar provisoriamente o forro do tejadilho para que não caísse na cabeça do passageiro ou retirasse visibilidade da pequena janela traseira.
Quando em 1972 o governo da então República Popular da Polónia (PRL) decidiu oferecer ao povo polaco um meio de transporte particular e barato escolheu o pequeno Fiat 126 italiano, que tinha substituído gradualmente o 600 e o 850. Os acordos de cooperação com o Grupo Fiat da família Agnelli e os países comunistas deram lugar aos soviéticos Lada 1200 (base Fiat 124), ao Fiat 125P (base Fiat 125), Fiat 126P e Zastava 1100 (Fiat 128); ainda se fabricaram alguns 127, 132 e 124 Sport mas só foram atribuídos às elites comunistas e altos funcionários públicos aos aparatchi.
O Fiat 126P motorizou grande parte da Polónia, foi o primeiro carro de inúmeras famílias e ultrapassou com sucesso o popular FSM Syrena - até então o carro de fabrico polaco mais popular e acessível. O 126P tinha um minúsculo e ruidoso motor de 600 c.c., colocado atrás, com dois cilindros em linha e arrefecido a ar e óleo. O grande problema do Maluch era mesmo a dimensão do pequeno carro face as proporções de um povo eslavo que é tudo menos pequeno!
O Fiat 126 era por fora e por dentro bem menos espaçoso que um Mini 1000 e muito mais acanhado do que um pequeno Fiat 127, um Citroen Dyane ou uma Renault 4L, alias os populares 4L, 2CV e Dyane que também motorizaram Portugal nem sequer foram vendidos na Polónia.
Imaginem agora um típico homem polaco, bem constituído, com mais de 1,80m ou mesmo 1,90 ou 2 metros a tentar conduzir um Fiat 126... o que faziam? Tiravam o banco da frente, sentavam-se no banco de trás e inclinavam-se ligeiramente de modo a engrenarem as velocidades e rodarem o volante! Isto não é mentira, acontecia amiúde.
Para quem queria dar uma queca o 126P não era o carro ideal mas como os bancos saiam facilmente sem necessidade de os desaparafusar o que dava possibilidade de se colocarem uns cobertores grossos, criando um pequeno e confortável divã; penso que não devem ser poucos os polacos que foram gerados dentro de um 126P...
O 126P que baptizei de Christine. Pertence à pizzaria local e recentemente foi usado para matar um polaco bêbado e agressivo que desafiou o entregador. Penso que desde o atropelamento o pára-choques continua desalinhado.
Obviamente que os 126P serão a médio-prazo uma visão rara, veremos muitos deles em concentrações de fãs de Fiat 126, restaurados e em garagens particulares mas não nas ruas, a enferrujarem e sujeitos a servirem de transporte público a qualquer meliante.
Obviamente que os 126P serão a médio-prazo uma visão rara, veremos muitos deles em concentrações de fãs de Fiat 126, restaurados e em garagens particulares mas não nas ruas, a enferrujarem e sujeitos a servirem de transporte público a qualquer meliante.
Segue-se o Fiat Cinquecento, ainda há muitos a circularem...
Um dos poucos Maluch que ainda se encontra na minha vizinhança, por trás dos bancos traseiros uma série de colunas de som para curtir...
5 comentários:
"Para quem queria dar uma queca o 126P não era o carro ideal mas como os bancos saiam facilmente sem necessidade de os desaparafusar o que dava possibilidade de se colocarem uns cobertores grossos, criando um pequeno e confortável divã". Tivesse eu sabido disto antes, e não tinha vendido o meu. Ora bolas!! E já agora, como fazem eles com a caixa de velocidades? Também sacam o manipulo para fora?
Uma coisa que eu nunca entendi no Maluch são os assentos da frente e especialmente os encostos de cabeça, absurda e perigosamente baixos. E pronto, o espaço dos pedais é mesmo o mais acanhado de tudo. Um gajo está todo descentrado porque a cava da roda está no espaço onde nos carros normais está a embraiagem :).
Fiat 126P é um marco, e nunca vai desaparecer. Sempre foram 3 milhões!
Isso da alavanca não te posso responder pois não sou praticante de fisting... 8-)
No meu Fiat 128 Sport de 1973 - substancialmente maior que o Maluch também retirava os bancos e baixava o travão de mão, a alavanca ficava engatada em terceira... claro que, num belo Domingo, a "febre" apareceu mesmo ali no parque daquela discoteca algures no Minho rural..
Acontece que no meio da folia um pezinho qualquer tocou nas mudanças e deixou o carro em ponto
morto... foi por ali a deslizar até quase bater num muro de granito.
Mãe, visto que já não és mais uma info-excluída e lês o meu blogue peço desculpa pela napa rota no banco do condutor, não era a idade avançada do Fiat nem o rabiosque pesado do teu filho mas nem sempre dava para tirar os bancos fora, no Minho chove amiúde e é húmido...
Agora entendes porque o carro andava sempre aspirado e limpo? :)))
Os encostos de cabeça do Maluch servem para encher chouriços... aquilo não protege o pescoço em caso de embate - os bancos na realidade costumam partir num choque, deve ser o sistema Proconten made in Poland...
Acho ainda mais graça aos modelos Maluch Town com encostos de cabeça nos bancos de trás, especialmente quando os tapam com aquelas capas brancas a dizerem FSO ou 126P!!!
Um polaco de calções, sandália e meia branca num carro com encostos de cabeça brancos é digno de figurar na Cosmopolitan...
Não precisava saber mas que sempre soube que andavas a dar cabo do carro!não tenhas ilusões.
Por vezes mais vale ser info-excluida,ah,ah,
Olá querido amigo português,eu sou professor de línguas aqui no Brasil e repórter de futebol,adorei o relato e como gosto da Polônia em virtude de está sempre conversando com umas amigas, foi ótimo essas informações do seu blog.Adoro carros e gostei de conhecer esse fiat 126 p já que tenho um FIAT UNO aqui no Brasil.Tenho um sobrinho em Portugal na cidade de Barcelos e sonho ainda em conhecer a europa.Grande abraço companheiro e sonho em ir a Polônia também.
Enviar um comentário