sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Emigrantes portugueses na Polónia - Afinal quem somos?


E entre gente remota edificaram Novo Reino, que tanto sublimaram;


Ó que famintos beijos na floresta,
E que mimoso choro que soava!
Que afagos tão suaves, que ira honesta,
Que em risinhos alegres se tornava!
O que mais passam na manhã, e na sesta,
Que Vénus com prazeres inflamava,
Melhor é experimentá-lo que julgá-lo,
Mas julgue-o quem não pode experimentá-lo.

A Ilha dos Amores, estrofe 83 do Canto IX



Portugal é um país de emigração, desde tempos longínquos que emigramos para todos os continentes estabelecendo em inúmeros casos comunidades perfeitamente integradas e reconhecidas pelos locais, como por exemplo nos EUA ou na África do Sul.

A emigração portuguesa no século XX foi, em muitos casos, dramática e fruto do desespero, daí terem chamado o salto (passar a fronteira fugindo ao controlo da PIDE) à vaga de emigração para a França, Alemanha, Luxemburgo e Bélgica nas décadas de 50, 60 e 70.
Durante o regime de Salazar emigram para a Europa mais de 1 milhão de portugueses o que equivale praticamente à população branca das nossas ex-colónias.


O filme "A Mala de Cartão" tornou-se uma referência para a compreensão deste fenómeno migratório e as razões que levam tantos compatriotas a abandonar o nosso bonito e solarengo Portugal.
Linda de Suza é a personagem principal do filme, uma história dramática mas com final feliz sobre uma portuguesa corajosa e determinada que decide dar o salto para França com uma criança ao colo e tendo como bagagem uma simples mala de cartão com poucos haveres. Linda de Suza tornar-se-ia mais tarde uma estrela da canção em França esgotando várias vezes os lugares do famoso Olympia de Paris onde actuaram entre outros, Amália Rodrigues, Édith Piaf, Jacques Brel etc.

A nova vaga de emigração no século XXI faz-se num cenário totalmente diferente, numa Europa comunitária, no Espaço Schengen e em plena liberdade.
Consta que o rei D. Carlos II terá dito uma ocasião que Portugal é um país de bananas governado por sacanas e curiosamente - ou não - passados mais de cem anos muitos de nós ouvem e porventura pensam de igual modo.

A nossa natureza portuguesa parece ser intrinsecamente maledicente - recordemos as canções de escárnio e mal-dizer! - mas a verdade é que o nosso país tem um clima, paisagem e gastronomia tão bons que só mesmo estando algo muito mal nos leva a deixá-lo para trás escolhendo, por exemplo, a Polónia.
Portugal é um país excelente para se viver, quando há dinheiro em abundância para o desfrutar em plenitude...

A emigração de Portugueses na Polónia, pelo que tenho constatado ao longo de vários anos, tem um ponto comum em quase todos os casos, uma polaca...
Como digo muitas vezes um português e uma polaca parece fogo em estopa, talvez seja a diferença no aspecto físico e de carácter que nos atraem, elas parecem gostar do género e nós idem, além do mais o que não falta neste país são mulheres!
Uns preferem as loiras de olhos azuis ou verdes, outros as que pintam o cabelo de preto e ficam com aqueles olhos claros ainda mais vividos e a parecerem um farol de milha outros ficam obcecados com ruivas e ainda há os que não podem ver um burro de saias.

Seja como for, em que circunstâncias forem, a comunidade portuguesa na Polónia tem vindo a crescer.
Ainda somos poucos, não formamos nenhuma comunidade digna de um Especial Praça da Alegria ou Portugal no Coração e existem mais polacos em Portugal do que portugueses na Polónia mas devagarinho vamos edificando o nosso Reino que tanto sublimamos.









5 comentários:

PM Misha disse...

uma amiga finlandesa disse-me "portugal seria o melhor país do mundo se os ordenados fossem mais elevados".
pois...

Geraldo Geraldes disse...

Caro Ricardo, de facto Portugal é um excelente país para se viver se se verificar uma das seguintes situações:
- fores um reformado estrangeiro
- fores um reformado português com uma reforma superior a 2000€
- fores um funcionário público, com um vínculo estável, e muito perto da reforma
Se fores jovem, ou tiveres um negócio por tua conta, ou não tiveres familiares influentes em cargos políticos (primos, sobrinhos, tios também contam), a racionalidade leva-te a considerar emigrar de Portugal para fora.
Ps: Ah, esquecia-me, Portugal também não é bom para os dois milhões de pobres (20% da população),muitos dos quais idosos.

Anónimo disse...

Epá... estou fora de Portugal a alguns anos. Enquanto estive pelo nosso país detestei tudo até dizer chega. Já tive noutro país bem mais rico e com mais condições de vida que o nosso e não me atraí por isso. Gostei das aventuras e tudo o que passei por lá. Estou na Polónia e cada vez mais gosto de Portugal.
O contraste sério é que penso voltar ao país para trabalhar a menos que haja um detalhe pessoal que possa fazer toda a diferença. Quanto à Polónia ser destino de imigração... bom... só mesmo pela "paisagem" porque para fazer um pé-de-meia não aconselho a ninguém... Obviamente vou pelo tal debate do gostar disto ou daquilo. Estou bem na Polónia e penso manter-me por cá...
Ok podem bater-me todos mas é a minha opinião.

Ricardo disse...

Tacitamente todos pensamos em regressar às origens.

Tenho saudades dos "meus sítios" em Portugal, de algumas pessoas e sobretudo da família mais chegada contudo não sofro do "síndroma do emigrante" que vive em angustia todo o ano excepto em Agosto quando regressa ao rectângulo.

Familiares meus que dispõem de boas reformas ou ordenados (função pública) e os que se instalaram por conta própria ainda conseguem desfrutar Portugal mas os outros que têm reformas mais encolhidas contam pelos dedos da mão as vezes que foram a um bom restaurante ou uma marisqueira, por exemplo.

Curioso que quando me ponho a divagar sobre um hipotético regresso (nem que seja na reforma) não considero o Minho ou o Norte como sítio para viver, acho que me ficarei pelo Sul (Lx, Margem Sul, Alentejo ou Ribatejo).

Surpresa... ;)

SKL disse...

Bem, isto de viver na Polonia nao e' tao mau assim. Ja' la vao 4 anos e meio e creio que mais estao pela frente.

Em breve casar-me-ei com a minha polaca, e la' esta', provavelmente ficarei por Cracovia por mais uns tempos.

Tal como o Ricardo dizia, acabo por nao sentir o tal sindroma, isto e', desde que tenha umas quantas coisas que me liguem a PT. De resto, vai-se sempre encontrando o vinho, umas sardinhitas :), uns chouricos e tb ha o bacalhau :)

Viver na Polonia nao da' para enriquecer (pelo menos eu nao vejo a minha situacao assim :( ), mas ha outras coisas que valem a pena.

um abraco a todos.

Romeu