segunda-feira, 24 de novembro de 2008

And since we've no place to go Let It Snow! Let It Snow! Let It Snow!


Tá bem abelha! A música Let It Snow é clássica e a primeira vez que a ouvi foi em 1990 no filme Die Hard II com Bruce Willies. Na cena final, depois da explosão do Boeing 747 dos vilões, a música passava enquanto a neve caia e John McClane , ensanguentado e cansado, abraçava a sua esposa; na altura tinha 17 anos, estava sentado num cinema em Portugal e neve só havia visto duas vezes na vida, não me recordo mas com certeza não estava frio ao sair daquela sala e nunca na vida me ocorreria que iria conviver diariamente com a dita neve!

É inevitável mais um tópico de um português na Polónia acerca da neve mas a verdade é que a primeira neve é sempre um momento simbólico para quem mora na Polónia, marca o inicio de um Inverno longo e frio, de pouca luz solar e de situações aborrecidas como por exemplo vestir o dobro das roupas, ter os cabelos despenteados por causa do gorro, ter os óculos embaciados mais frequentemente, sacudir a neve e raspar o gelo do automóvel, andar com mais cuidado para não escorregar nas ruas gélidas e também ver as beldades polacas completamente vestidas durante vários meses...

Passados este anos todos a viver na Polónia, após tantos Outonos e Invernos a neve ainda me impressiona e causa-me uma relação amor-ódio; na realidade gosto de ver o manto branco por todo o lado, tem o seu encanto diga-se passagem mas torna-se banal ao fim de duas semanas, rotina em meados de Janeiro e insuportável em Fevereiro.

Um dos primeiros sinais da época fria começa em finais de Setembro quando as noites ficam quase repentinamente frias e sente-se no ar o cheiro a fumo proveniente das lareiras e salamandras das casas. Em Dezembro já nos habituamos ao som da neve a estalar debaixo das botas, aos montículos de neve ao lado dos passeios e entre os carros, já nem olhamos para os caleiros dos prédios e as suas estalactites, para o gelo sujo, atirado pelos pneus dos carros e camiões, tudo isso passa a ser invisível.
O frio, a neve e o gelo passam a ser rotina, deixamos-nos de preocupar com o termómetro e os "menos qualquer coisa", remetemos para um canto as comparações climáticas Portugal-Polónia e vivemos o dia-a-dia como qualquer polaco. No fundo há coisas muito mais importantes na vida do que neve e frio e essas ocupam-nos inevitavelmente a cabeça.

O lado bom é o regresso a casa, as divisões aquecidas e o jantar onde não faltará uma cerveja fresca e uma sobremesa de gelado para esquecer o frio que faz lá fora.

Ah! E as polacas dentro de casa não precisam de andar todas vestidas. :)

terça-feira, 18 de novembro de 2008

A como Amor - M jak Miłość


A Polónia tem o seu Dallas, chama-se M jak Miłość (leiam M iaque miu-osh-tch)

As telenovelas polacas são acima de tudo decentes... não temos mulheres histéricas a gritarem a toda a hora, decotes que praticamente só cobrem os mamilos, não temos rabos latinos em vestidos justos nem palacetes estilo novo-rico como em muitas novelas brasileiras, mexicanas e venezuelanas. Os homens são regra geral tímidos e cavalheiros mas existem também os vilões.

Normalmente os vilões polacos são de poucas falas, não se exaltam e são para todo o efeito verdadeiros filhos da puta. Desculpem a "linguagem de caserna" mas pareceu-me a mais adequada para os descrever.

Nas telenovelas latinas temos sempre ingredientes essenciais. Mulheres descascadas, piscinas, sexo, traição e traição, porrada, morte, tiros e machos latinos morenos de pelo no peito ou então depilados mas sempre com um estilo Zézé Camarinha escolarizado. Todos os personagens falam alto e choram frequentemente.

Quem aprecia o estilo então esqueça o M Jak Miłość. Este seriado é decente, temos histórias de amor, traição, violência, acidentes de automóvel, morte e ódios de estimação mas sempre em voz baixa, sem exaltações e sem grandes manifestações emocionais. Desengane-se quem pensa que os polacos são frios ou distantes. Não são!

Nós, os portugueses, e a "latinada" em geral, é que somos exaltados e barulhentos, os portugueses são, para todos os efeitos, uma espécie de espanhóis tímidos.
Se nos morre o cão choramos, dizemos "ai coitadinho do meu cão!!!" e ficamos com um aspecto tipo Amália Rodrigues a cantar "Povo que Lavas no Rio", ao passo que os polacos ficam calados, com os olhos marejados mas sem comentarem, no entanto sentem a dor tanto quanto nós.

Talvez esse seja o segredo das relações luso-polacas, umas pitadas de emoção latina misturadas com umas pitadas de racionalidade eslava.

sábado, 15 de novembro de 2008

Energia solar nos cortiços




O que podem ver na imagem são os prédios (mieszkania) típicos da Polónia comunista contudo com uma estrondosa diferença volvidos quase 30 anos desde que foram feitos.
Foram reconstruídos com material de isolamento exterior, pintados em cores mais claras, deixando o cinzento de outros tempos para trás, e agora até têm instalados painéis solares nos telhados.

Esta é a minha vizinhança, ou osiedla com dizem os polacos. A Polónia é um dos países da União Europeia com maior emissão de gases prejudiciais a atmosfera; a redução da poluição atmosférica foi um dos pontos que a UE exigiu que se tomassem medidas por parte do governo polaco.

Assim, graças a fundos estruturais da UE, muitos prédios na Polónia passarão a ter a água quente aquecida a energia solar, para tal são instalados nos telhados uma série de painéis que a funcionarem em conjunto auxiliam o aquecimento da água da companhia.

O objectivo principal é o de não sobrecarregar as centrais eléctricas que funcionam, em grande parte, a carvão. A Polónia é um dos países da UE com maior extracção e consumo de carvão e um dos gigantes exportadores do mesmo.

A queima de carvão é um problema sério para a Polónia. Por um lado o carvão é uma fonte de rendimento do país desde longa data e a redução do consumo implica perdas económicas consideráveis, por outro lado a poluição atmosférica é um assunto muito sério, para não dizer grave, neste país. Não é segredo (quando muito segredo de polichinelo) que os indicadores de poluição na Polónia são maus.

De acordo com fontes do InterScience Journal [1], a Polónia desde há 50 anos a esta parte tem deteriorado severamente o ambiente afectando a fauna e flora do país bem como a saúde pública.
Todos os anos são despejados entre três a quatro milhões de toneladas de gases tóxicos para a atmosfera como Dióxido de Enxofre entre outros, mais de 75% das águas do Vístula são impróprias para consumo inclusivamente consumo industrial.

Esperemos que o bom senso e sobretudo campanhas informativas modifiquem o estado das coisas.

Paraísos como os lagos e as grandes florestas polacas, onde ainda se encontra o bisonte europeu (żubr), não podem desaparecer nem ser ameaçadas por atitudes irresponsáveis daqueles que exercem o poder.

Floresta polaca de Białowieża [2]

[1] http://www3.interscience.wiley.com/journal/119279723/abstract?CRETRY=1&SRETRY=0

[2] http://cicg-iccg.org/communs/Pologne/geo19park-en.htm

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

O "emeryta" (reformado)

Uma imagem comum nas grandes cidades polacas. [1]


Hoje fui (finalmente) lavar o carro, teve mesmo de ser pois na Quarta-Feira tenho de fazer a Przeglądu Techniczny ou seja, a Inspecção Periódica Obrigatória.

O dia esteve soalheiro e começou com 270 zloty a mudarem de mãos devido a uma panela de escape nova que, por incrível que pareça, nem sequer era especifica para os Lancia Lybra 1.9 JTD... não houve um "tłumasz" (mecânico das panelas de escape) em Łódź que me dissesse que tem uma panela para esse modelo! Felizmente que o grupo Fiat sempre foi prodigioso em partilhar componentes e como tal levei, tomada e embrulhada, uma panela de Fiat Marea que além de ser mais barata ainda deixou uma saudável [not] ressonância estilo racing sempre que circulo a baixas rotações.

Feito isto fui lavar a viatura que parecia vinda de um qualquer Paris-Dakar... o serviço custou uns modestos 16 PLN com aplicação de espuma e cera para minimizar os estragos das lixadeiras automáticas. Depois do sopro das ventoinhas ter tirado alguma água da carroçaria foi a vez de aspirar o interior.
Meti uma moedinha de 2 zloty no aspirador e limpei a praia que tinha debaixo dos tapetes. Quando sacudia os ditos reparo que tenho um idoso a olhar para mim.

O senhor aparentava os setenta e muitos, tinha um saco de supermercado na mão, boina e óculos de massa graduados com um estilo antiquado. Perguntou-me, com um sorriso no rosto, se estava a lavar o carro por causa do feriado do 11 de Novembro ao que respondi que não, na realidade lavava o carro por causa da inspecção periódica.
Enquanto secava as janelas o senhor foi-me dizendo, com uma voz cansada, que ainda é do tempo em que as pessoas andavam quase todas de bicicleta, como ele disse rower (bicicleta em polaco) ainda pensei que tivesse um Rover mas depois caí na real.
Continuou dizendo-me que nesses tempos os carros eram poucos e hoje em dia são relativamente baratos, o irmão dele tem um e estima-o bastante, já ele não pode conduzir pois a pequena reforma não lhe permite esse luxo.

Foi então que me perguntou se uma garrafa de água e refrigerante que estavam no lixo eram minhas. Disse-lhe que não, que por acaso tinha reparado que alguém tinha-as tirado do carro ao aspirar e deixado-as no cesto. O senhor terminou a conversa, começou a rodar as garrafas na mão e meteu-as no saco, foi então para a paragem de autocarro com um sorriso nos lábios.

Naquele momento fiquei a pensar nos 270 zlotys que deixei na oficina, no carro que tenho aos 34 anos de idade e na injustiça de ver alguém que, depois de trabalhar uma vida toda, não só não pode comprar e manter um carro como ainda precisa de remexer no lixo dos outros.

Os vasculhadores de lixo

Recordo-me bem da primeira vez que tomei contacto com esta realidade na Polónia, as pessoas que vasculham no lixo.
Quem aqui vive já não se sente chocado mas para o estrangeiro talvez seja uma novidade, não pelo facto de não existirem vasculhadores de lixo em todo o mundo, mas pelo facto de na Polónia serem tantos e fazerem-no durante o dia.

Ao que parece a maior parte deles procuram latas de cerveja e metal para poderem vender o alumínio ao quilo e fazerem algum dinheiro, outros procuram restos de comida para não passarem fome, outros ainda vão buscar janelas, sofás, cortinados e móveis velhos para levaram para as suas dzialka, outros precisam de "fundos" para pagar o vicio do álcool.

Como diz o provérbio em inglês "one man's trash is another's man gold"!

[1] Retirado de Flickr, fotografia de oto-polska.blogspot.com

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Viver no Barco - II

Łódź - O coração da Revolução Industrial na Polónia

Fábrica de Israel Poznański em finais do século XIX [1]

Num primeiro contacto a cidade não impressiona ninguém, não tem um rio decente (tem uns afluentes), não tem praia nem lagos e parece ser uma enorme mancha cinzenta com avenidas e ruas cortadas a régua e esquadro mas não é bem assim.

Łódź é uma das cidades europeias com a maior percentagem de "mancha verde" e deve ser apreciada não como um todo mas ao pormenor. Infelizmente a maior parte dos edifícios históricos e o centro da cidade encontram-se degradados, as paredes partidas e sem ver tinta há décadas, os passeios quebrados e algumas fachadas pretas de anos de poluição vinda das chaminés e lareiras, do transito e do gelo.

Houvesse dinheiro e Łódź poderia ter um centro histórico que não fica nada a dever a algumas zonas de Paris, e não estou a exagerar! Venham cá e confirmem.

Łódź foi em tempos uma gigantesca cidade industrial. Segundo a Wikipédia, chegou a ser de tal modo industrializada que, durante o século XIX em plena Revolução Industrial, recebeu emigrantes de países tão longínquos como Portugal (sic) mas também Inglaterra, França e Irlanda. A industria têxtil tinha aqui o seu estandarte.

A comunidade judaica foi essencial para erguer a cidade e torná-la um dos maiores pólos industriais da Europa (senão o maior) no século XIX. O epíteto da "Cidade das Quatro Culturas" ou Miasto Czterech Kultur não é dado em vão, na realidade Łódź era uma cidade multi-cultural onde se podia verificar a convivência entre a comunidade judaica, alemã, russa e a maioria polaca. A cidade é inclusivamente palco de um festival anual chamado de Festival das Quatro Culturas onde se realizam eventos alusivos a essas comunidades.

Ainda hoje em dia basta uma visita relâmpago para se verem as imponentes fábricas dos grandes industriais como Israel Poznański (hoje em dia o centro comercial Manufaktura), Ludwik Geyer, Karl Scheiber, a fábrica branca entre outras, não dezenas, mas centenas de fábricas e pavilhões construídos no típico Tijolo Burro.
Os grandes magnatas da industrial têxtil construíam os seus palacetes com a fábrica(s) ao lado e edifícios, em estilo barroco, que serviam de albergue aos seus trabalhadores.

Casas construídas para os trabalhadores, a fábrica ficava mesmo em frente. [2]

Durante os anos de ouro de Łódź houve um judeu-polaco que se destacou de todos os outros, Izrael Kalmanowicz Poznański, o fundador de um dos ex-libris da cidade, o palácio Poznański e a gigantesca fábrica e edifícios contíguos que, até cerca de 2004, estavam praticamente abandonados e esquecidos, excepto o palácio onde actualmente existe um museu e serviços públicos.
Toda a zona envolvente foi recentemente reaproveitada por um grupo francês para erguer o gigantesco centro comercial Centrum Manufaktura (27 hectares) e um futuro hotel de quatro estrelas.


Izrael Poznanski 1833-1900. Consta que quando mandou construir o seu palácio foi perguntado sobre que estilo pretendia, terá respondido "todos!". [3]


Símbolo dos tempos. A fábrica que se tornou o maior centro comercial da Polónia e conseguiu destronar a famosa rua Piotrkowska como o "local onde tudo acontece". [4]

[1] Foto retirada do site sobre os judeus de Łódź in: http://www.shtetlinks.jewishgen.org

[2] http://picasaweb.google.com/Malgorzata.Majewska/LodzACityOnceFamousForTextileIndustryButAlsoCinema#5095636460858018530

[3] [4] Wikipedia Commons

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Pszczółka Maja - Abelha Maia



E agora, desenhos animados da... Polónia!
Sou da geração Vasco Granja. Não, o senhor não me traumatizou e perdoo-lhe algumas secas que nos dava antes de passar os desenhos animados da Polónia, da Checoslováquia, da Hungria e de outros países de Leste.
O que queríamos mesmo era ver o Pato Donald e o Huginho, Zezinho e Luisinho, com um bocado de sorte o Rato Mickey mas a verdade (ou Suma Sumarum como dizem na Polónia) é que passados tantos anos os desenhos animados que mais me lembro são precisamente os da Europa Central e de Leste!
Isto vem a propósito da Abelha Maia e do meu filho de dois anos e meio, o verdadeiro Portulaco. Jamais imaginaria, naquelas manhãs de Domingo, que iria ter filhos naquele país estranho e tão longínquo que Vasco Granja dizia ser muito bonito, que tinha cidades lindas como Cracóvia e o rio Vístula.

Hoje em dia dou por mim a ouvir a Abelha Maia em polaco... e ainda por cima tinha que ser uma daquelas palavras que obrigam-nos a fazer perdigotos... Pszczółka Maja... Pszczółka... Pch-tch-ul-ka!!!
Certo que em língua portuguesa dizemos abelha o que na minha região, o Minho, significa também "a velha"... "A maldita da belha quer ficar cu dinheiro tuodo debaitcho do cultchon!". Mas mesmo assim é mais fácil soletrar a-be-lha contra Psz-czół-ka ou talvez não... A letra que todos sabemos "era uma vez no país da abelha Maia" passa a ser assim:


Jest gdzieś, lecz nie wiadomo gdzie
świat, w którym baśń ta dzieje się
Maleńka pszczółka mieszka w nim
Co wieść chce wśród owadów prym

pszczółkę którą tu widzicie
zowią Mają
Wszyscy Maję znają i kochają
Maja fruwa tu i tam
Świat swój pokazując nam

Dziś spotka was maleńka, zwinna pszczółka Maja
Mała, sprytna, rezolutna Maja
Mała przyjaciółka Maja
Maju
Baju
Maju, cóż zobaczymy dziś?
(Só não me peçam para traduzir ) :)