sábado, 5 de setembro de 2015

Polónia avulso XIV


Crise dos refugiados divide a Europa

A renomeada revista norte-americana Life Magazine encontra-se agora disponível online no Google Books, desde o primeiro número, em 1935, até ao último em 1972. Entre as inúmeras e históricas reportagens e fotografias destaco o curioso artigo, num dos números do ano de 1940, onde um jornalista dos EUA descreve os europeus e o seu continente. 

Tradução: <<Em blocos nacionais os europeus relacionam-se mal. Individualmente, dão-se muito bem. Na realidade com muito menos maquinaria para fazerem o seu trabalho frequentemente parecem desfrutar da vida mais do que as pessoas nos EUA, uma das razões pelas quais os americanos ali gostam de ir em tempos de paz. Os meios dos europeus se divertirem diferem. Como a maior parte dos seres humanos gostam de fazer amor, comer, beber e brincar na água, são também viciados em passatempos como caçadas à raposa, swan-upping (os ingleses), dança Czarda (húngaros), andar de bicicleta-tandem (franceses) e cantar o tirolês ou Iodelei (suíços). O que mais se destaca é que em geral a diversão na Europa é barata. A cerveja é consumida em quantidades copiosas. O vinho é um bem de consumo básico e não um luxo. O automóvel ainda é considerado como um brinquedo para a classe-alta na maior parte da Europa mas as distancias são, regra geral, curtas. As pessoas não se sentem incomodadas em usarem uma bicicleta ou mesmo andarem a pé. Enquanto praticamente ninguém na Europa mantém um avião privado para diversão, quase todos se divertem com passatempos primitivos como cavar, conversar ou passear. A ideia que a Europa no momento está a arder não é para ser tomada literalmente. O facto é que apesar das tropas marcharem, as cidades serem bombardeadas e haverem matanças de todos os tipos de gente, milhares de nativos europeus procuram viver a sua vida de modo mais ou menos normal. Os europeus não concebem trabalhar sem que haja uma quota generosa de simples divertimento. Em consequência a procura do prazer acompanha os objectivos de guerra. Os países continentais que não se encontram na zona de guerra fazem o possível para que a guerra não os impeça de se divertiram tal como nos EUA. Psiquiatras traçam um paralelo entre a diversão na Europa e a guerra da Europa. Aparentemente os europeus direccionam o seu ódio em direcção a outros países mais do que a outros indivíduos portanto quando não se matam en masse, o seu sentido de humor é mais notório>>.

Setenta e seis anos depois da invasão da Polónia pelo III Reich no dia 1 de Setembro de 1939, quando o novo escolar começava e o Verão se despedia, uma vaga de refugiados de países muçulmanos, sobretudo da Síria, Líbia e Curdistão tentam, tal muitos europeus durante esses anos fugir da morte e da guerra.

Certo que uma análise simplista a um tema complexo e polémico não é suficiente para justificar a vaga de seres humanos (migrantes, refugiados ou invasores -  como alguns insistem em os denominar) que têm um objectivo concreto de viverem em paz. Uns dividem-se entre despoletar mecanismos urgentes de ajuda humanitária, outros num equilíbrio entre a mesma e a manutenção da paz e estabilização dos países de origem dos que procuram refúgio, ainda há os europeus que defendem o encerramento das fronteiras externas e internas da UE, eliminando o Espaço Schengen, o recurso à força e, se necessário, violência em prol da defesa do continente contra uma alegada invasão muçulmana que a médio e longo prazo tomará a Europa de refém iniciando uma nova era de conflitos civilizacionais. 

Na Polónia, dito o país mais ocidental a Leste da Europa, os sentimentos, anti-islâmicos têm vindo a tornar-se visíveis na opinião pública nos media, Internet e nas redes sociais relativamente ao acolhimento de refugiados de origem árabe e magrebina. 

É que, tal como já escrevi imensas vezes, a Polónia é porventura um dos últimos redutos da Igreja Católica, senão do Cristianismo europeu, e os seus valores são ainda um dos pilares da cultura polaca ainda que surjam cada vez mais polacos distanciados do catolicismo, da religião em geral e de tendências politicas conservadoras. Não é de admirar que perante isto e também o facto de ser um dos países da UE com menos benefícios sociais os refugiados e migrantes económicos procurem abrigo na Alemanha, Áustria, Holanda, Bélgica e no El Dorado da tolerância e segurança social, o Reino Unido.

Ao estilo da sociedade distópica no The Hunger Games onde os ricos se encontram numa espécie de redoma de vidro, usufruindo de imensa riqueza e prosperidade, alheios ou indiferentes à miséria que os rodeia, criando jogos de morte com adolescentes das zonas pobres, a UE e a sociedade ocidental em geral, assim parece viver os seus dias num planeta onde mais de metade vive no limiar de pobreza.

Marcha de refugiados de Budapeste para Viena. Fonte: Youtube, EuroNews.

A imagem de um bebé sem vida, o rosto parcialmente enterrado na areia, numa praia europeia, o pequeno Aylan de apenas três anos, filho de refugiados sírios, não me sai da cabeça, não consigo deixar de pensar no que representa aquele pequeno corpo que viveu apenas três anos e que junto com a sua mãe e o seu irmão de cinco anos, não conseguiram passar os Hunger Games entre a aflição de um naufrágio num barco sobre-lotado, vagas altas no mar mediterrâneo e uma das mortes mais horríveis que é o afogamento.  O seu pai conseguiu sobreviver para contar a dramática e comovente história de ver os seus filhos e mulher desaparecerem na escuridão da água sem que conseguisse ajudá-los terminando ali a felicidade de uma família.  

Estará o ocidente a tornar-se uma espécie de sociedade Hunger Games e o mundo islâmico dominado por um Sauron e o seu exército de Orcs, a recordar-nos o Senhor dos Anéis de Tolkien, uma entidade sedenta de sangue, prestes a dizimar quem lhes apareça pela frente?

Não vivemos num filme ou obra de ficção, tudo isto ocorre diariamente e só temos de usufruir das riquezas e bens que temos, estando gratos pela paz e prosperidade e manter a Europa (com excepção da caça às pobres das raposas) que o jornalista americano descreveu há mais de setenta anos; uma Europa e um estilo de vida típico dos europeus que, aparentemente, pouco mudou... 

 Os meios dos europeus se divertirem diferem. Como a maior parte dos seres humanos gostam de fazer amor, comer, beber e brincar na água (...)

O que mais se destaca é que em geral a diversão na Europa é barata. A cerveja é consumida em quantidades copiosas. O vinho é um bem de consumo básico e não um luxo (...)

 Os europeus não concebem trabalhar sem que haja uma quota generosa de simples divertimento (...)

Aparentemente os europeus direccionam o seu ódio em direcção a outros países mais do que a outros indivíduos portanto quando não se matam en masse, o seu sentido de humor é mais notório.


O comboio Nazi do Holocausto (actualização)

O tema histórico do ano na Polónia e quem sabe no mundo, sem esquecer a destruição dos templos históricos milenares na Síria, na cidade de Palmira, e a execução bárbara do escolástico sírio, Khaled al-Assad, que recusou ceder à chantagem dos assassinos do ISIS sendo decapitado e pendurado no centro da cidade depois de não revelar a localização de tesouros e artefactos históricos sírios. 

Afinal o comboio Nazi existe ou não?

O ministro polaco do Património Nacional e Conservação, Piotr Zuchowski, admitiu publicamente a existência de uma composição ferroviária no local revelado pelos descobridores tendo sido no leito de morte de um polaco idoso que a reveladora confissão foi feita.

A dita confissão transporta-nos ao ano de 1945, no inicio da Primavera, quando era mais do que evidente o colapso da máquina de guerra do III Reich. Aproximando-se a passos largos de Berlim, o Exército Vermelho vindo de Leste aproximava-se dos Aliados, vindos da libertação de França, em direcção ao bunker onde Adolph Hitler e parte dos cabecilhas Nazis se encontravam encurralados, esperando um milagre, a derradeira vitória das tropas alemãs contra o invasor soviético e os EUA, o que nunca veio a acontecer.

A Polónia era então território ocupado desde 1939 e nos cinco anos seguintes os Nazis destruíram mas também construíram imensas instalações militares, quartéis, edifícios, estradas, túneis, campos de concentração, pontes e parte da tão ambicionada auto-estrada ou autobahn que ligaria Berlim a Moscovo, um autentico corredor de guerra que permitiria aos alemães o acesso rápido aos territórios ocupados a Leste da capital do Reich.

Águia Nazi com suástica encontrada perto do local onde alegadamente se encontra o "comboio do ouro". Foto: MailOnline


O Plano Riese (plano gigante) envolto num manto de mistério consiste numa série de labirínticos e em alguns casos gigantescos túneis cavados com recurso a mão-de-obra escrava por prisioneiros de guerra. Alguns desses túneis tinham acesso a fortificações e castelos onde o staff Nazi se encontrava. Este túnel na agora mediática e pacata cidade de Walbrzych, não longe da cidade de Wrocław e da fronteira com a agora República Checa não faz parte dessa rede de túneis mas os historiadores mencionam que os alegados documentos selados nos vagões desde 1945 possam revelar algo sobre essa parte da História da ocupação.

Facto plausível da possibilidade dos vagões conterem riquezas é a execução de uma família polaca que vivia perto da entrada do túnel e da linha ferroviária, agora inexistente. Foi na Primavera de 1945 quando a debandada dos Nazis era evidente que um soldado alemão, de nome Schulz, foi socorrido por um polaco quando estava a ser espancado por dois homens. Agradecido por lhe ter salvo a vida o militar revelou o "tesouro" escondido pelos SS e o modo como executaram friamente a família polaca que teria assistido a tudo ao longo dos anos que passaram e em particular o comboio que deveria ser ocultado dos soviéticos. Um casal e dois meninos foram metralhados pelos soldados SS e a sua casa imediatamente incendiada ficando até hoje um lote de terreno entregue à natureza.

Outras opiniões dizem que os vagões devem estar vazios já que os russos passaram a pente fino todas as localizações onde alegadamente os Nazis haviam estado ou ocultado algo de valor.



Piotr Koper e Andreas Lichter (cidadão alemão) quando revelaram publicamente a sua descoberta não tiveram em conta a verdadeira febre do ouro que a mesma despertou em imensos bounty hunters em todo o mundo que rapidamente se deslocaram a Walbrzych na Baixa-Silésia. Munidos de documentação e provas tiradas com sonar os dois descobridores foram a um dos mais populares programas da televisão polaca (canal TVP Info) para contarem a sua versão e de certo modo posicionarem-se como os pioneiros da descoberta ainda que não mencionem um dos principais protagonistas neste enredo, um idoso investigador, com 85 anos, de nome Tadeusz Słowikowski que é nada mais nada menos do que o polaco que ajudou o soldado Schulz em 1945.

Reprodução do scan da zona onde se encontra o comboio Nazi apresentada pelos dois descobridores. Foto: MailOnline.

O senhor Tadeusz investigou a existência e localização do misterioso comboio há mais de 40 anos e já nos anos 50 do século passado ouviam-se rumores de tal "tesouro" em Walbrzych mas os mapas, documentos e estudos foram agora colocados no cofre de um banco, a pedido do idoso, depois de alegadamente ter sido alvo de tentativa de roubo, ameaçado por telefone e inclusivamente terem-lhe envenenado o cachorro.

De má fé ou não os dois descobridores teriam usado os conhecimentos e mapas de Tadeusz Słowikowski - inclusivamente tem uma maqueta das linhas e do comboio na garagem - para irem de encontro ao złoty pociąg (comboio do ouro) que, de acordo com eles, não está armadilhado e não se encontra nos tais túneis do castelo de Ksiaz mas sim em outro local, o qual deverá ser oficialmente escavado na Primavera de 2016, de acordo com as informações prestadas pelos investigadores e pelo Ministro da Defesa da Polónia, agora que a descoberta está nas mãos dos militares em colaboração com Koper e Lichter.

Do lado dos judeus já se ouvirem vozes que esperam uma entrega do ouro a quem lhes pertence por parte do governo polaco enquanto um advogado russo alega que o conteúdo, ao abrigo das leis internacionais do transporte de bens, pertence-lhes, tendo em conta que a composição provinha da então URSS, agora Federação Russa.

 Foto: MailOnline
Locais de Walbrzych minimizam o acontecimento dando a entender que a montanha pariu um rato apesar de aparentemente, de acordo com o britânico Daily Mail, os serviços secretos polacos estarem no local, em furgões escuros, com material de pesquisa em profundidade.

Um tema a acompanhar ao longo dos próximos meses.





Sem comentários: