No nosso país ser patriota parece cada vez mais uma imagem do passado - ou só reaparece brevemente no Europeu e Mundial de futebol. As Forças Armadas de Portugal, por exemplo, andam há muitas décadas pelas ruas da amargura associando-as mais à revolução de Abril de 1974 e Golpe de Estado do que à importância que deveriam ter na defesa e vigilância de uma das maiores Zonas Económicas Exclusivas da UE, cerca de 4 milhões de Km2. Na Polónia, pelo contrário, são ainda um dos pilares do patriotismo e orgulho da nação polaca.
Um evento organizado pela Força Aérea da Polónia (Siła Powietrzna) no final de Setembro, intitulado de Piquenique Aéreo, na base aérea táctica de Łask a cerca de 40 quilómetros de Łódź, contou com mais de 20.000 visitantes que tiveram a oportunidade de assistir durante duas horas a arriscadas e espectaculares manobras dos pilotos polacos em alguns dos seus quarenta e seis F-16 e uma exibição de material militar incluindo caças, aviões, helicópteros, jipes e blindados. Material de camuflagem, metralhadoras pesadas e ligeiras, pistolas e artilharia estavam disponíveis ao público sendo dadas a experimentar e explicadas ao público por militares prestáveis e com sentido de humor.
Um país que passou por duas guerras mundiais, sacrificado, dividido, ocupado, destruído mas mantendo uma forte identidade nacional que tantos inimigos tentaram em vão arrasar tem mais do que motivos para relembrar e apoiar as suas forças armadas, especialmente num momento em que a estabilidade das fronteiras da Europa sofrem importantes abalos; primeiramente e ainda com o conflito na Ucrânia e agora com a vaga de refugiados muçulmanos que desejam entram em território da UE.
O Dia da Bandeira e da Constituição são prova dessa mostra de patriotismo onde frequentemente se exibe a bandeira branca e vermelha em janelas, varandas e mastros, os próprios prédios e instituições costumam ter um local próprio para se pendurar a bandeiras nos dias festivos da nação.
Elementos relacionados com a extrema-direita polaca ou com hooligans usam esse orgulho na nação para mostras de força e amiúde manifestações de carácter eminentemente racista, homofóbico, anti-UE, anti-capitalista, anti-esquerda e anti-comunista. São orgulhosamente polacos, brancos e cristãos e não hesitam em usar força bruta contra aqueles que estão contra eles e os seus ideais.
Outro símbolo relacionado com o patriotismo polaco é o P com forma de ancora, conhecido como "kotwica". Criado pela resistência polaca durante a ocupação alemã na II Grande Guerra é hoje em dia um dos símbolos nacionais, representando a independência e resiliência do país e dos seus cidadãos contra os inimigos.
Depois da queda do Comunismo na Europa Central e de Leste, deitado abaixo o Muro de Berlim e em consequência a "Cortina de Ferro" a Polónia reorganizou as suas forças armadas ajustando-as à nova realidade fora da esfera de influência da URSS, aproximando-se de Washington, e sobretudo nas grandes mudanças após a adesão à NATO e posteriormente à UE.
É visível o material militar antes e pós NATO. Kalashnikov, Makarov, RPG e outros oriundos da URSS substituídos gradualmente por armamento de fabrico nacional (metralhadora Beryl) ou importado (Heckler & Koch, Glock ou Walter) e os MIG e Sukhoi gradualmente descontinuados e substituídos por F-16 de fabrico norte-americano.
Aproveitando a oportunidade dada pela Força Aérea da Polónia subi as íngremes escadas entrando em vários caças e aviões onde registei em fotografia os "cinco minutos de fama" no cockpit de um Sukhoi, SU-22, de fabrico russo onde a instrumentação em caracteres cirílicos (fez-me recordar certos filmes de ficção cientifica) está ali para nos recordar de um passado relativamente recente onde os mesmos seriam, em caso de guerra, usados contra a NATO e os países da Aliança Atlântica. Do mesmo modo manuseei - obviamente sem munição - pela primeira vez uma sub-metralhadora H&K MP5, a shotgun Mossberg 500, a conhecida pistola Glock 9 mm entre outras armas usadas por snipers e elementos das forças especiais polacas. Material pesado e de precisão que o comum cidadão apenas conhece da televisão e cinema. Tudo supervisionado por militares prestáveis e com sentido de humor. Uma aproximação dos militares aos civis muito correcta e que provavelmente trará dividendos quando alguns dos miúdos que ali "brincaram" aos soldados estiverem em idade militar.
A crise dos refugiados, a guerra no Médio-Oriente e Norte de África, a violência inenarrável, brutal e as ameaças do Estado Islâmico recordou a todos os que prezam a paz e a concórdia que estes anos de paz e prosperidade que temos, a evolução da nossa sociedade e mentalidade, os valores básicos onde assenta a civilização e a própria Humanidade são algo que para outros, vivendo a sua própria Idade-Média, deverá ser destruído como fizeram com a sua própria História em Aleppo, Raqqah, em Palmira, Bagdad, Tripoli e em tantas outras cidades e lugares destruídos e saqueados.
Ninguém quer retrocessos civilizacionais e os militares, quer se goste deles ou não, estão ali para nos defender e proteger.
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