A Leste de uma (des)União Europeia, fazendo fronteira com a Polónia, Bielorrússia, Roménia, Moldávia e Federação Russa a Ucrânia, com os seus mais de 600.000 km2 e a sua imensa costa do Mar Negro - onde faz fronteira marítima com a Turquia e Bulgária - é um dos gigantes europeus com uma História antiga e frequentemente trágica mas plena de perseverança na sua identidade nacional e independência. Sobrevivente e beligerante em guerras e batalhas com a Rússia, Polónia, Crimeia, Lituânia, Império Otomano e Alemanha a sua independência, ganha com o fim da hegemonia da URSS no Bloco de Leste e respectivos países-satélite, parece perder-se não com invasões e disputas territoriais mas sim com as oligarquias que assolam o Leste do velho continente.
Não podemos pensar que a Ucrânia é um caso isolado de corrupção ao mais alto nível e que pelo facto de ser um país longínquo e com Invernos gelados não nos toca o problema que os ucranianos enfrentam correntemente com o governo e o novo estado policial de Viktor Fedorovytch Yanukovytch. A Ucrânia é apenas o expoente máximo da corrupção, entrega da democracia a interesses privados, a oligarcas (poder nas mãos de famílias poderosas ou de um grupo restrito) e em ultima instância ao que vemos diariamente e que se revelou na crise económica de 2008, a democracia a ser transformada em plutocracia - o poder dos ricos.
Manifestante em Kiev rasga em dois o retrato de Viktor Yanukovytch enquanto que simbolicamente ostenta correntes nos pulsos. |
Não podemos pensar que a Ucrânia é um caso isolado de corrupção ao mais alto nível e que pelo facto de ser um país longínquo e com Invernos gelados não nos toca o problema que os ucranianos enfrentam correntemente com o governo e o novo estado policial de Viktor Fedorovytch Yanukovytch. A Ucrânia é apenas o expoente máximo da corrupção, entrega da democracia a interesses privados, a oligarcas (poder nas mãos de famílias poderosas ou de um grupo restrito) e em ultima instância ao que vemos diariamente e que se revelou na crise económica de 2008, a democracia a ser transformada em plutocracia - o poder dos ricos.
Citando o humorista português Ricardo Araújo Pereira na sua crónica sobre a vida sexual de certos franceses muito feios: O poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente. Este é porventura o motivo para Viktor Yanukovytch se manter no poder e tentar por todos os meios esmagar a oposição contra o seu governo quer através de força bruta quer através de leis draconianas que transformaram a Ucrânia num estado policial. Mais do que os interesses da Federação Russa, da Gazprom, da UE e da NATO o que o presidente ucraniano tem a perder com a sua queda é a imensa fortuna acumulada e negócios sobejamente conhecidos dos ucranianos e investigados pela imprensa livre que, em breve irá desaparecer caso não haja uma intervenção internacional aberta, visível, firme e determinada capaz de fazer braço-de-ferro com a Federação Russa, o aliado preferencial da família e dos sectários de Yanukovytch.
Tinha 17 anos quando assisti ao colapso do comunismo e à viragem histórica que se iniciou em 1989. Primeiro a Polónia com o sindicato Solidariedade e Lech Wałęsa a virarem as costas a uma resignada URSS e posteriormente todos os outros países do Bloco de Leste sendo a República Democrática Alemã ou DDR (RDA) o ícone dos ventos de mudança. A queda do Muro de Berlim foi o desmoronar do Comunismo, da Guerra Fria e da Cortina de Ferro e, para os que estavam por trás da cortina de Churchill, o inicio de um novo período histórico e das liberdades fundamentais. Nicolae Ceausescu, o grande líder da Roménia comunista é executado sumariamente a 22 de Dezembro e com a sua morte torna-se pública a insanidade cometida contra o seu povo ao longo de décadas. Todos os esforços e carestias sofridas pelos romenos eram inversamente proporcionais à riqueza, fausto e caprichos dos Ceausescus. Impunidade, avareza (todos os seus fatos eram usados uma vez e queimados) e desconfiança eram suportados por uma elite partidária e protegidos pela Securitat, a policia de estado romena.
Yanukovytch parece querer seguir o mesmo trilho. É despudorado, rico, imensamente rico e os sinais exteriores de riqueza são muitos sendo a sua residência de luxo em Mezhyhirya um exemplo de insanidade e total falta de consideração para uma nação onde o salário médio não chega aos 300€, quer isto dizer, grosso modo, que uma metade ganha menos do que isso e outra pouco mais...
Em contrapartida as madeiras exóticas, cristais, mármores italianos, os candelabros de 100.000 dólares e a polémica sala de Karaoke, alegadamente ao estilo Luís XIV a par com um bosque e jardim zoológico privado - onde já morreram dois cangurus vitimas da invernia ucraniana - são alguns dos requintes dos Yanukovytch. Nada mal para um simples funcionário público ucraniano que durante a sua carreira auferia cerca de 2000 dólares de salário...
O presidente da Polónia, numa tentativa de aproximação e reconciliação com o seu vizinho, ofereceu de presente cavalos polacos de raça Hutsul, conhecidos internacionalmente pelas suas características e qualidades. A oferta tem como objectivo a expansão da raça na Ucrânia o que equivale a algo como darmos oficialmente o nosso cavalo-lusitano aos espanhóis... |
Um espectacular helicóptero Agusta-Westland de fabrico italiano e orçado em 17 milhões de dólares junto com o novo avião presidencial Airbus A-319 com um custo de 90 milhões de dólares onde se encontram pormenores em casquinha de ouro como as torneiras dos lavabos, candeeiros e partes da suite presidencial são também outros dos sinais exteriores de riqueza do presidente ucraniano. Para complementar o luxo os tecidos escolhidos são em tecido Jacquard de grande exclusividade e requinte, extremamente suaves ao toque. Ler mais aqui.
A oligarquia ucraniana tem sido seguida pela imprensa livre da Ucrânia e internacional. Os negócios do filho de Yanukovytch e do seu clã foram noticia no alemão Der Spiegel (ler aqui) com ênfase nas ameaças ao jornalista Sergei Leschenko que tem sido voz activa na denuncia dos indescritíveis casos de corrupção dos governantes e políticos ucranianos.
A aproximação à UE representa também o distanciamento de Moscovo e abertura a ideias mais liberais e nalguns meios pouco aceites como a questão da homossexualidade, abertura de fronteiras e subjugação aos interesses de Bruxelas numa Ucrânia eminentemente rural. Os movimentos nacionalistas e conservadores opõem-se colidindo com mentes mais abertas e disposta à mudança. A traição soviética durante o Estalinismo tendo como consequência o trágico período histórico do Holodomor que ditou a morte a milhões de ucranianos pela fome, a guerra com os polacos e os Pogrom (massacres em aldeias) pelos movimentos ultra-nacionalistas do UPA em consequência da "Polonização" dos territórios então tidos como ucranianos, o Nazismo, o redefinir das fronteiras com a Polónia - que terminaria apenas em 1951 - a ocupação soviética posterior ao armistício de 1945 são feridas que recordam os ucranianos da importância e valor de serem independentes enquanto que inevitavelmente geram medos e receios numa nação que se viu de costas viradas para o Ocidente.
A Ucrânia pelas circunstancias históricas tornou-se um país de emigrantes, muitos deles foram para Portugal onde já constituem uma pequena comunidade em muitos casos integrada com a população. Também os há aqui na Polónia, não só pela proximidade territorial e pelo idioma que rapidamente aprendem ou não fosse o ucraniano uma língua eslava mas também pelas oportunidades que uma Polónia membro pleno da UE oferece em contrapartida com o revés da democracia e economia ucraniana.
Infografia com as leis draconianas do novo estado policial de Yanukovych |
Devemos acompanhar e divulgar o crescimento de um estado fascista nas fronteiras com a UE e também fazer uma reflexão sobre aquilo que nos rodeia e que, ainda que de um modo menos evidente, nos toca. O esmagamento da classe-média para servir os interesses de uma elite que não foi eleita ainda que o faça com mestria recorrendo a fantoches carregados de ouro.
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