domingo, 31 de dezembro de 2023
Caleidoscópio - Polónia 2023
sexta-feira, 22 de dezembro de 2023
Feliz Natal / Wesołych Świąt Bożego Narodzenia/ Merry Christmas
sexta-feira, 30 de dezembro de 2022
Caleidoscópio - Polónia 2022 - Já dizia Bocage...
sexta-feira, 23 de dezembro de 2022
Boas Festas e 'Vésauêx Chviont'
sexta-feira, 31 de dezembro de 2021
Caleidoscópio - Polónia 2021 - Annus Horribilis (interminabilitatem)
Groundhog Day ou o Feitiço do Tempo, o filme de 1993 com Bill Murray como protagonista. Alguém se recorda? Um meteorologista presunçoso fica preso no mesmo dia vezes e vezes sem conta? Assim parece ser o nosso quotidiano desde finais de 2019. Nota-se que já vivemos num mundo diferente daquele que conhecemos antes do Covid19 mas creio que todos, sem exceção, estamos cansados de debatar este assunto. Muito mais está a acontecer ao nosso redor, nem só de pãoCovid19 vive o Homem...
Brexit e Polexit?
Rule, Britannia! Britannia, rule the waves! Britons never, never, never shall be slaves.
"Governa, Bretanha!, governa as ondas! Os britânicos nunca, nunca serão escravos". Bateram a porta da União Europeia porque querem ou porque podem? A resposta serão as duas opções, porque queriam (uma parte dos britânicos que votou no referendo) e porque podem, são uma economia forte e um país que, a bem dizer, esteve na União Europeia mas sempre com um pé de fora, quer pela moeda da qual nunca resignaram quer pelo facto de nunca sequer terem aceite ser parte do Espaço Schengen, usarem o sistema imperial, tomadas de eletricidade diferentes, conduzirem do lado esquerdo da estrada e beberem chá a toda a hora...
A Polónia do PiS de Mateusz Morawiecki e Andrzej Duda sob o escrutínio da eminência parda Kaczyński parece querer um rumo independente dos ditames de Bruxelas e dos acordos que foram assinados para fazerem parte da "família europeia".
Somos europeus
Não á UE
O desafio surgiu em Outubro quando o Tribunal Constitucional polaco decidiu que algumas leis da União Europeia não eram compatíveis com a Constituição polaca. Em outros posts deste blogue já tinha mencionado o atrito entre o partido no poder; conservador, arreigado a tradições e moral católicas que, alegadamente, representam os "valores" da Polónia e os grupos que sentem diariamente discriminação como a comunidade LGBTQ, as mulheres (e homens) polacos que não se revêm na atual lei do aborto, regulação de anticoncepcionais além da clara mordaça aos média que não alinham com a crescente instrumentalização dos meios de comunicação social em prol dos ideais do PiS. Contudo
Andrzej Duda, o Presidente polaco vetou recentemente a polémica lei sobre os média que limitaria a propriedade dos mesmos existirem ou serem financiados com capital estrangeiro. Não se sabe ainda a reacção de Kaczyński.
A resposta de Bruxelas no entanto atingiu diretamente os cofres do estado com a suspensão de ajudas para a pandemia no valor de 36 biliões de euros. Morawiecki respondeu com uma clara mensagem que chantagem não será o modo de resolver esta polémica que, entretanto, esfriou a partir do momento em que a fronteira de 400 Km com a vizinha Bielorrússia se tornou um problema ainda mais grave para a Polónia e para a estabilidade política e territorial da União Europeia.
Os guardas das fronteiras Leste da União Europeia
Durante décadas, no século passado, a Alemanha Ocidental, então denominada de RFA (República Federal Alemã), era o limite territorial do denominado 'mundo-livre' com a 'Cortina de Ferro' que constituía os países-satélite da então gigantesca URSS e aqueles do Pacto de Varsóvia.
Dentro da RFA tínhamos Berlim - em enclave - o qual viria a ser o símbolo do colapso do Socialismo-Comunismo no Centro e Leste Europeu. Com a adesão da Polónia à UE em 2004 o 'testemunho' foi passado para este país da Europa Central. Agora as fronteiras alargadas passavam a ter a Polónia e posteriormente a Estónia, Letónia e Lituânia como tampão para a Federação Russa e os países das novas independências como a Bielorrússia e Ucrânia.
Como tal lidar com a Federação Russa a nível geopolítico, estando a Polónia e parte da Europa dependente energeticamente do gás providenciado pelo gigante russo Gazprom é ter de agradar a gregos e a troianos, agravado ainda com a sempre tensa relação entre a NATO, Rússia e Estados Unidos - e ao mesmo tempo assegurar que eventos passados como uma invasão ou guerra não voltam a ocorrer são um fardo pesado e custoso.
Putin frisou várias vezes não querer a NATO a expandir para Leste e recentemente o apoio em material militar dado pela Aliança Atlântica à Ucrânia, justificado pela concentração anómala de tropas russas na fronteira Leste desse país vizinho da Polónia parece poder causar um potencial retorno de uma Guerra Fria (V.02) e um vislumbrar da Ucrânia como membro da NATO...
O líder da Bielorrússia, Lukashenko, ripostou com uma crise humanitária às portas da UE depois das sanções económicas impostas pela UE, Reino Unido, Canadá e Estados Unidos pela cavalgante ditadura que se vive naquele país, especialmente na sequência do desvio de um voo da Ryanair com destino a Vilnius para Minsk de modo a encarcerarem um jornalista (Roman Protasevich) que veemente se mostrava contra o regime de Alexander Lukashenko.
Esta crise fronteiriça elevou ainda mais o já exacerbado patriotismo em parte da sociedade polaca. Nas redes sociais em resposta ao vídeos onde se vê a polícia polaca a responder com gás lacrimogéneo e canhões de água a tentativas de corte e trespasse das barreiras fronteiriças surgem frases como Polska góra (Polónia em grande!), Murem za polskim mundurem (Muro com uniformes) e até TikTok's, vídeos no YouTube, Twitter etc com jovens polacos a mostrarem a sua Książeczka Wojskowa ou seja, a cédula-militar; prontos a irem combater pela pátria caso fossem chamados. Uma certa histeria, fruto de excesso de informação, contexto histórico de invasões e perda de independência do país (a última prolongou-se por 123 anos) e patriotismo levaram a tal situação.
A Polónia respondeu rapidamente, sem ajuda externa, contendo diáriamente provocações do exército bielorusso tais como tentativas de ofuscar e cegar os soldados e autoridades polacas com luzes potentes e lasers, fornecimento de utensílios de corte de arame farpado aos refugiados e emigrantes, despejo de emigrantes e refugiados ao longo da fronteira incluindo com a Lituânia.
Entre estes 'jogos de guerra' ficam seres humanos - refugiados, migrantes-económicos ou o que seja que os levou a tentarem uma vida na União Europeia - sujeitos a temperaturas negativas, vaguearem na floresta de Białowieża sem conhecimento da mesma, hipotermia, má-nutrição, casos de morte, maus-tratos e incerteza sobre o futuro. Os rigores do Inverno levaram a que (finalmente) se abrigassem os refugiados em campos de refugiados do lado bielorusso. A crise contudo está longe de ser resolvida, quando muito estará ao ralenti até que chegue a Primavera ou até que hajam negociações sérias e eventualmente uma mudança democrática na Bielorrússia. Mesmo assim continuam a haver refugiados e emigrantes ilegais a tentarem a sua sorte rumo à Alemanha.
Veremos o que nos trará 2022. Como disse em tempos João Pinto, o capitão do Futebol Clube do Porto: Prognósticos só no fim do jogo...
quinta-feira, 23 de dezembro de 2021
Boas Fests a todos os leitores!
Não, não é um 'typo' escrevi mesmo Boas Fests em vez de Boas Festas
Como diria o saudoso jornalista Baptista Bastos; "recordo numa ocasião..." em Vila Nova de Famalicão, nos anos oitenta, na então chamada Loja do Crocodilo (sim, tiveram durante anos um crocodilo vivo na montra - que foi crescendo até finalmente ir para o jardim zoológico) alguém escrever, com aquela espuma a imitar neve, o tal Boas Fests. O autor apercebeu-se que, não havendo espaço para a letra A teria de cortar a palavra mas a mesma deveria fazer sentido, ficando Boas Fests para gáudio de muitos que por ali passavam, excepto o pobre crocodilo e eventualmente Luís Vaz de Camões...
A cidade sempre a evoluir deixando velhos prédios e casas que pararam no tempo coexistirem entre ruas novas e parques (como o fantástico Parque da Devesa), prédios modernos destacam-se pela altura e há novos arruamentos em locais onde na minha infância e adolescência haviam apenas campos de cultivo e pasto, bosques ou terrenos baldios (bouças como dizemos lá no Norte).
Por uma questão de nostalgia fui revisitar o Restaurante Snack-Bar Dragão onde se comiam saborosas francesinhas e cachorro com molho de francesinha. Já não está no mesmo local, o original encontra-se entaipado, abandonado e decrépito junto com uns prédios construídos ao lado para minorias étnicas. O novo local fica numa espécie de armazéns perto do estádio de futebol do Famalicense Atlético Clube.
O Dragão, do Sr. Matos, era ponto de paragem na adolescência - quando se sente fome até depois de comer. A meio da tarde os garotos dos anos oitenta iam em magote para as "máquinas" que agora chamam de Arcade Games, gastar uma moeda de vinte e cinco escudos no jogo preferido como o Bubble Bobble, Tetris e, no meu caso, simuladores de corridas onde passava pelo menos uma hora ao volante a jogar. Na volta o Dragão ficava a caminho e o típico cheiro que emanava da chaminé de alumínio abria o apetite para degustar uma "frãocezinha com batata" ou um suculento "cachorro à Dragon". Do actual Dragão ficou apenas o nome, o dono trespassou há bons anos, assim foi-me dito quando perguntei pelo paradeiro do Sr. Matos. Dos tempos do original resta apenas alguma parte da decoração e, atirado numa esquina, um Peugeot 205 XAD abandonado que em tempos foi usado pelo dono.
Mas o progresso é assim mesmo, progressa! Famalicão avança não fossem as gentes do Minho serem enérgicas tal como o folclore regional, o Vira do Minho, rítmico, bailado, estalando os dedos e rodando de modo estonteante. Famalicão reflete bem esse bailado, essa dinâmica. Zonas periféricas como a freguesia de Gavião estão hoje em dia tão próximas da cidade que parece surreal em tempos ter calcorreado a estrada nacional para lá ir a casa de um amigo, como se fosse sair do centro urbano para uma aldeia. A via de cintura interna abraça muitas das freguesias circundantes, outrora alcançáveis apenas por Estrada Nacional e Regional aos zig-zag, ultrapassando ou ficando atrás de camiões e autocarros. Estas infraestruturas dão agora acesso a auto-estradas e vias-rápidas que levam os famalicenses a capital de distrito, Braga, ao Porto, Guimarães, Póvoa de Varzim e Vila do Conde e de volta em pouco tempo. Foi bom revisitar o passado em Vila Nova de Famalicão mas muito mais há para contar, quiçá noutro post mais adiante.
E assim, avançando nos anos vinte do século XXI, continuamos com uma evolução na continuidade de mais um Natal com restrições e onde muitos de nós, provavelmente, já com o 'boost' (estilo turbo no motor para dar mais frisson) da Pfizer, Moderna ou Johnson & Johnson; outros a terem de fazer testes antigénicos e toda a parafernália de 'passaporte Covid' para irem à terrinha durante o Natal, máscara, desinfectantes. E uma nova dinâmica de trabalho (teletrabalho) e telescola. Outros ainda recusam terminantemente a vacina e tudo o que é exigido em nome da saúde pública. Creio que no futuro poucos recordarão estes anos com nostalgia, estamos todos confusos, exaustos e ainda mais para aqueles que têm entes queridos em hospitais sem os puderem visitar (por vezes até ao fim), a situação é ainda mais dramática - para os doentes e para a família.
Um grande bem haja para todos os leitores e seguidores deste blogue. Boas Festas! Com o A que neste espaço cabem todas as letras.
quarta-feira, 30 de dezembro de 2020
Caleidoscópio - Polónia 2020 - O Annus Horribilis
2020, o ano da pandemia, das máscaras do confinamento, do distanciamento social, do tele-trabalho (para muitos), das restrições e da milagrosa vacina. Torna-se tarefa difícil "dourar a pílula" deste ano que chega ao fim. Na Polónia foi também o ano de mais uma vitória, à tangente, do partido conservador PiS e também de convulsões sociais, ainda presentes, na sociedade polaca. 2021 está quase a chegar, será um Annus Mirabilis ou uma repetição do anterior ao estilo do filme Groundhog Day? Veremos...
O movimento czarny protest - que não tem nada a ver com as manifestações do BLM nos Estados Unidos - foi mencionado neste blogue aqui mas apesar da decisão estar em águas de bacalhau depois de contínuos e determinados protestos e, pela primeira vez, ataques às igrejas, algo impensável num dos países mais católicos e com a maior percentagem de igrejas por Km2 de toda a Europa, continua bem presente e não vai parar num autêntico braço-de-ferro entre a Polónia conservadora, católica e aquela mais progressista, liberal. Uma Polónia antagônica onde não se consegue vislumbrar um consenso a curto ou a médio prazo.
2021 promete uma continuidade dos protestos e um descontentamento, senão mesmo um ódio figadal ao PiS e à figura de proa do partido conservador, Jarosław Kaczyński.
A Polónia pós Donald Trump
O Presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, considera que foi roubado nas eleições de Novembro, a vitória de Joe Biden não é uma vitória mas sim usurpação. O governo i.e. o PiS é considerado por muitos polacos da oposição como lambe-botas da administração Trump ao ponto de Andrzej Duda, o Presidente da Polónia, ter prometido a construção de uma base militar, Fort Trump, no Norte do país - o nome não foi aceite por os EUA por ser manifestamente uma demonstração de grandiosidade - mas ficou assim conhecido. A Polónia vê a aliança com os americanos como uma armadura contra os vizinhos de Leste, a Federação Russa, enquanto reforça a sua importância, no ensejo de tornar vital, no seio da NATO.
Os parabéns ao novo Presidente, Joe Biden, foram dados tardiamente - tal como o fez Vladimir Putin...
Parabéns a JoeBiden pela bem sucedida campanha presidencial. Enquanto esperamos a nominação pelo Colégio Eleitoral a Polónia está determinada em continuar uma aliança estratégica de alta qualidade entre os Estados Unidos e a Polónia para uma aliança ainda mais forte.
DISCO POLO "GRILL SONG" - Ziomuś z Psar ( Hardkor Disko Samer Dens 2013 ) - um mergulho no mundo dos churrascos ao ar-livre polacos - com os devidos exageros claro...
quinta-feira, 29 de outubro de 2020
Piekło Kobiet (Piequó Cobiet) ou o Inferno das Mulheres
O homem nasce livre e em toda parte está acorrentado. Aqueles que se julgam senhores dos outros são de facto maiores escravos do que eles. Jean Jacques Rousseau no século XVIII
Evito a todo o custo ter de escrever o nome Jarosław Kaczyński, não gosto do homem, do partido dele, dos seus ideais e da Polónia que ele representa, ou quer representar, e em geral dos seus apoiantes, respeito a decisão deles e aceito-a pois esse é o pilar de qualquer democrata, rejubilar na Vitória e aceitar a derrota. Actualizar o blogue escrevendo sobre este personagem da História contemporânea polaca é "porque tem de ser".
Desde o início desta última semana de Outubro, entre um novo surto da pandemia e o regresso ao confinamento, o Tribunal Constitucional da Polónia decidiu levar a aprovação no Sejm (Parlamento) a proibição quase total do aborto que, assinale-se, já era restrita a casos de defeito do feto, risco de vida da progenitora, violação e incesto.
Esta decisão política foi tomada em pleno surto do Covid19, entre alertas via SMS do "ALERT RCB" (Proteção Civil) quase diários alertando os cidadãos para ficarem em casa e acederem a aplicações e páginas governamentais sobre a pandemia incluindo uma nova aplicação denominada STOP COVID que, consta, nem foi considerada segura por empresas de segurança informática.
As reações foram imediatas e piores (para o governo) daquilo que se imaginava. As mulheres polacas ficaram incrédulas, lívidas, com a audácia dos juizes do Tribunal Constitucional e com o plano, viscoso, do PiS em ir avante com esta decisão numa altura em que a pandemia toma proporções graves com o regresso ao uso de máscara na via pública, escolas e instituições fechadas e o número de infetados que aumenta esponencialmente à medida que os testes se fazem com mais frequência.
Elas saíram à rua imediatamente
Envergavam cartazes e banners com dizeres, muitos deles com insultos, como wypierdalać (vão-se foder) e muitos outros a insultar o PiS, Jarosław Kaczyński, ministros e senadores do partido conservador. Nunca se tinha visto algo assim, insultos, calão, escárnio. É mais do que um protesto, é um não se poder mais, é ter de se abrir uma janela para entrar ar fresco, uma tensão no ar como aquela que tantos portugueses tinham dentro de si até chegar o dia 25 de Abril e se poder gritar a plenos pulmões sem receio, sem querer saber de quaisquer consequências: Liberdade sim! Fascismo nunca mais! e O povo unido jamais será vencido!
O canal estatal tentou não dar grande importância aos protestos focando-se na pandemia e focando o quão maus são os manifestantes enquanto nas ruas de Varsóvia, Cracóvia, Poznań, Gdańsk, Łódź, Wrocław e outras cidades os protestos não paravam, não param. Juntaram-se homens às mulheres, os taxistas também se fizeram ouvir e posteriormente em algumas cidades a própria polícia baixou a guarda e juntou-se aos manifestantes. Nas redes sociais às fotos de perfil acrescentaram-se um relâmpago vermelho, símbolo deste movimento e da luta das mulheres polacas pelos seus direitos numa guerra para combater o piekło kobiet - o inferno das mulheres.
As catedrais foram pela primeira vez na História da Polónia alvo dos protestos com missas interrompidas havendo mesmo confrontos com os fiéis. Estas tornaram-se lugar de passagem dos manifestantes tal como as sedes do PiS (como na imagem acima).
Rapidamente o "Exército de Deus", os "Escravos de Maria" - elementos da Extrema-Direita polaca mobilizaram-se, instigados por Kaczyński e os seus verdugos, colocando-se estes em frente das portas, barrando os potenciais invasores. Alguns dos que protestavam foram agredidos sem que a polícia se incomodasse em resolver alguma altercação. Tudo numa cumplicidade a recordar os Camisas Negras de Mussolini que davam pauladas na oposição a mando do Duce de Itália ou a génese do Nacional Socialismo alemão com as SA que destruíram os pontos de comércio dos judeus espancando-os nas ruas, espalhando o terror, criando bode-expiatórios para os problemas graves que infligiam a nação alemã no pós-Tratado de Versalhes.
Kaczyński não esperou a oportunidade para aparecer nos média. Com um aspecto cansado, mãos pálidas colocadas na mesa, um pin na lapela com o símbolo da resistência polaca, a kotwica (âncora com um P) - foi posteriormente severamente criticado pela ousadia - e três bandeiras da Polónia no fundo. Apelou, num discurso incendiário, ao combate àqueles que estão a atacar as igrejas e os valores polacos que estão a ser destruídos - zniszczony (destruídos) - palavra usada várias vezes ao longo do discurso.
Mais manifestações são esperadas nos próximos dias e o apelo de Kaczyński não surtiu o efeito desejado. Muitos dos ultras do futebol polaco que supostamente dariam cobertura à guerra-civil instigada por o Pan Prezesie (chefe) não reagiram e inclusivamente mostraram-se contra o governo sobretudo contra o presidente do PiS enquanto o Primeiro-Ministro polaco, Andrzej Duda, infetado com Corona, disse brevemente, senão timidamente, que "compreende as mulheres". Assinale-se que a sua filha e a Primeira-Dama claramente se mostram contra.
Os próximos dias trarão mais novidades, está tudo em aberto.
quinta-feira, 2 de abril de 2020
O mundo, Europa, Polónia e Portugal no Estado de Emergência (Covid19)
Algumas pessoas apercebem-se agora em como estavam viciadas em estarem ocupadas.
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Entre o rescaldo do conflito mundial de 1914-1918 o mundo tinha de lidar novamente com mais mortes, de todas as idades, raças e escalões sociais, ninguém foi poupado sendo a tecnologia e tratamentos na época ainda básicos senão rudimentares.
1920 - foto digitalizada e colorida tirada durante a pandemia do vírus Influenza ou Gripe Espanhola. |
2020 - Cem anos depois as semelhanças são surpreendentes com a exceção dos veículos e da tecnologia empregue na vestimenta conhecida como Hazmat Suit (uniforme Hazmat). |
O Presidente da República portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa e o Primeiro-Ministro António Costa anunciaram uma extensão de quinze dias ao Estado de Emergência com efeitos ainda mais restritivos e punitivos entre casos de desobediência civil, negligência e exceções - como as feiras - e outros mais mediáticos como o caso dos passeios na Avenida dos Banhos na cidade costeira minhota da Póvoa de Varzim, ou as filas para atravessar as pontes que ligam a capital portuguesa aos destinos balneares dos lisboetas, entre outros casos de desleixo por parte de alguns portugueses que, felizmente, não espelham a maior parte dos meus concidadãos que entendem a necessidade de quarentena para reverter o cenário atual, o número de contágios e falecimentos.
Os estudantes polacos agora têm aulas através da Internet, o que viu as vendas de material informático dispararem em tempos de contenção e incerteza. Muitos professores de um tempo em que não haviam computadores e ainda com uma mentalidade algo cristalizada relativamente ao ensino, encontraram agora novos desafios. A informatização apanhou de surpresa pais, alunos e professores.
Do mesmo modo que o Covid19 alterou o sistema de ensino também obrigou muitas empresas, sobretudo corporações, a deslocalizarem os seus colaboradores para aquilo que em língua inglesa se denomina de Home Office (trabalho a partir de casa). Outras empresas tiveram de suspender atividades e mesmo dispensar pessoal. Nas fronteiras a Leste, com a Ucrânia e a Bielorrússia sobretudo, o movimento migratório aumentou a partir do momento em que determinada mão-de-obra não-especializada, feita por muitos imigrantes desses países foi dispensada. É notório um abrandamento da economia a atingir sobretudo os negócios familiares e as pequenas e médias empresas levando a uma outra muito provável crise, desta vez de cariz económico já que todos os indicadores apontam para uma recessão económica com as consequências nefastas que sempre acontecem quando a economia abranda e o desemprego aumenta exponencialmente.
A Internet polaca nao perdeu tempo com memes de Jaroslaw Kaczyński |
"Se a situação melhorar em finais de Abril - e as crianças regressarem à escola - não vejo motivo para cancelar as eleições" disse Bartlomiej Wroblewski um deputado do PiS, o partido no governo. Mais uma vez o partido no poder causa polémica e mesmo revolta entre a classe política e o eleitorado. As eleições de 10 de Maio deveriam ser adiadas por um ano tendo em consideração a pandemia que se vive neste momento.
A Polónia, por exemplo, apesar das medidas de emergência não é dos países com maior percentagem de testes realizados para determinar infeções com Covid19, os números atuais (em crescimento) e as cada vez mais restritas medidas de contenção dos contágios refletem precisamente a necessidade de evitar situações que potenciem o risco de haver mais casos, como seja a deslocação de pessoas para votarem.
O maior problema de haver deslocações às urnas (isto soa extremamente irónico nos tempos que correm) são precisamente os idosos, o grupo de maior risco do Covid19 que constituem também a esmagadora maioria dos votantes do PiS e leais seguidores de Jarosław Kaczyński e do seu partido, Lei & Justiça. Como tal foi sugerido o voto por correspondência já que a Internet não se apresenta como solução viável para os idosos polacos que, maioritariamente, não têm sequer uma ligação à rede ou mesmo um computador. Desse modo os emigrantes polacos deixaram no ar a questão de como se podem deslocar às urnas e formarem filas quando nos seus países de emigração estão em curfew (estado de emergência ou estado de sítio).
Ainda não há certezas de nada mas, como afirmou sobranceiramente o presidente Andrzej Duda; "se há condições para se ir ao supermercado, então também há condições para se ir as urnas".
Merda em polaco nas traseiras do supermercado Netto. Alguém não parece estar conformado com a situação atual.
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Nos primeiros dias de Estado de Emergência o papel higiénico foi um dos primeiros produtos a desaparecer das estantes nos supermercados, um pouco por todo o mundo. Neste imagem, no supermercado Biendronka do grupo português Jerónimo Martins uma velhinha perdeu a oportunidade de ter o seu rolo de papel. Como na canção de Zeca Afonso"Os Vampiros - Eles Comem Tudo". E sim, eu tinha papel-higiénico em casa, não precisava de reforço...
Se alguém se engana com seu ar sisudo
E lhe franqueia as portas à chegada
Eles comem tudo eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada
Eles comem tudo eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada
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Na semana seguinte os "vampiros" do papel-higiénico não precisavam mais e o stock havia sido reposicionado. Desde então não tem havido carência deste "novo ouro" nem uma explicação racional do motivo pelo qual em frente de um problema como uma pandemia muitas pessoas temem esvair-se em matéria fecal...
Os elétricos (conhecidos com Tram na Polónia) e os autocarros urbanos iam praticamente vazios. Na segunda semana foram higienizados todos os dias e os passageiros aconselhados a viajarem com uma distância de, pelo menos, dois assentos entre si.
Uma rua que costuma estar pejada de carros, a Ulica Fabryczna, onde centenas de trabalhadores do Global Delivery Center da Fujitsu e outras empresas estacionam os seus carros todos os dias, por vezes é mesmo complicado arranjar um lugar de estacionamento. Num dia da semana, apresenta-se vazia.
O vosso escriba numa selfie pouco elaborada à espera do táxi para (finalmente) levar o equipamento de trabalho para casa tal como milhares de outros na Polónia.
Nas padarias, lojas de conveniência 24/7 e farmácias os polacos começaram a manter distância entre si, um hábito que, para muitos estrangeiros que vivem neste país, já devem ter reparado parecer não estar muito enraizado devido à proximidade das pessoas entre si nas filas talvez em virtude do passado, durante o Comunismo, onde as filas eram cerradas para evitar aqueles que queriam passar à frente de outros num tempo de escassez de bens e nervos de aço esperando muitas vezes no frio gélido por algo que poderia esgotar rapidamente vindo para casa de mãos a abanar, triste e gelado.
Estamos em confinamento, sem possibilidades reais de ter o estilo de vida anterior à epidemia, teremos de enfrentar esta nova realidade, não se sabe até quando.
Estamos mais do que nunca com tempo para refletir naquilo que realmente é importante nas nossas vidas e em companhia de alguém que negligenciamos muitas vezes, por estarmos demasiado ocupados com os outros, com o trabalho, com entretenimento e distrações materiais, muitas vezes temporárias. Esse alguém somos nós próprios.