quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

Boas Fests a todos os leitores!

 Não, não é um 'typo' escrevi mesmo Boas Fests em vez de Boas Festas

Como diria o saudoso jornalista Baptista Bastos; "recordo numa ocasião..." em Vila Nova de Famalicão, nos anos oitenta, na então chamada Loja do Crocodilo (sim, tiveram durante anos um crocodilo vivo na montra - que foi crescendo até finalmente ir para o jardim zoológico) alguém escrever, com aquela espuma a imitar neve, o tal Boas Fests. O autor apercebeu-se que, não havendo espaço para a letra A teria de cortar a palavra mas a mesma deveria fazer sentido, ficando Boas Fests para gáudio de muitos que por ali passavam, excepto o pobre crocodilo e eventualmente Luís Vaz de Camões... 


Desejo a todos os leitores e amigos um Feliz Natal e próspero Ano Novo, fazendo um mea culpa pela escassez de posts neste blogue já que à medida que os anos vão passando o mesmo dilui-se apenas num português na Polónia que já se sente estrangeiro no seu próprio país, ainda que não seja Um Polaco em Portugal... 

Assim foi este Verão com a "visita de médico" que fiz a Vila Nova de Famalicão (conterrâneos não levem a mal mas foi apenas uma semana e espero que hajam mais oportunidades para uma jantarada épica depois da pandemia) onde já não ia há muitos, muitos anos - costumo ficar lá na 'outra banda', no Sul quando regresso à pátria. 

Famalicão será sempre aquele cantinho no coração, a "terrinha" onde tantas memórias e histórias estão, onde amizades se prolongam para lá de décadas - muitas delas aqueles e aquelas que tinha o número de rede fixa na lista de telefones na carteira - continuam até ao fim dos dias,  certamente. O que foi feito de fulano? E sicrano? Pergunto. O Sr. X morreu, a Dona Y foi para um lar, o Carlos vive na Suíça há muitos anos e ao recordar estas pessoas lá vem um desfile de memórias, de histórias com eles, como dizem os americanos a trip down memory lane.

Na garagem do prédio na rua João Paulo II (é verdade a rua onde vivia tem o nome do Papa polaco) ainda é visível na parede a marca do pára-choques cromado do Fiat 128 Sport Coupé que tantas alegrias (e arrelias) me (nos) deu; o meu pai gostava de dar aquele encosto na parede, deixando espaço para o Fiat 127 e mais tarde o VW Golf do vizinho, o Sr. Tanque com o qual ainda hoje e com proveta idade vai-me dando os parabéns no Facebook e eu a ele.
 
O Fiat já não existe há quase trinta anos e o pai já cá não está fazem quase vinte mas a marca de coisas do passado tal como objectos que nem me recordava ter guardado em gavetas como as chaves do carro com um porta-chaves ridículo (um extraterrestre amarelo de olhos vermelhos), o botão da buzina, o manual de instruções e uma lista de peças substituídas tal que já não havia mais espaço para escrever, o painel de instrumentos da marca Veglia Borletti e a minha colecção de bandas desenhadas feitas por mim nos anos oitenta e noventa que agora estão, finalmente, com o autor na Polónia.


A cidade sempre a evoluir deixando velhos prédios e casas que pararam no tempo coexistirem entre ruas novas e parques (como o fantástico Parque da Devesa), prédios modernos destacam-se pela altura e há novos arruamentos em locais onde na minha infância e adolescência haviam apenas campos de cultivo e pasto, bosques ou terrenos baldios (bouças como dizemos lá no Norte).

Por uma questão de nostalgia fui revisitar o Restaurante Snack-Bar Dragão onde se comiam saborosas francesinhas e cachorro com molho de francesinha. Já não está no mesmo local, o original encontra-se entaipado, abandonado e decrépito junto com uns prédios construídos ao lado para minorias étnicas. O novo local fica numa espécie de armazéns perto do estádio de futebol do Famalicense Atlético Clube. 

O Dragão, do Sr. Matos, era ponto de paragem na adolescência - quando se sente fome até depois de comer. A meio da tarde os garotos dos anos oitenta iam em magote para as "máquinas" que agora chamam de Arcade Games, gastar uma moeda de vinte e cinco escudos no jogo preferido como o Bubble Bobble, Tetris e, no meu caso, simuladores de corridas onde passava pelo menos uma hora ao volante a jogar. Na volta o Dragão ficava a caminho e o típico cheiro que emanava da chaminé de alumínio abria o apetite para degustar uma "frãocezinha com batata" ou um suculento "cachorro à Dragon". Do actual Dragão ficou apenas o nome, o dono trespassou há bons anos, assim foi-me dito quando perguntei pelo paradeiro do Sr. Matos. Dos tempos do original resta apenas alguma parte da decoração e, atirado numa esquina, um Peugeot 205 XAD abandonado que em tempos foi usado pelo dono.

Mas o progresso é assim mesmo, progressa! Famalicão avança não fossem as gentes do Minho serem enérgicas tal como o folclore regional, o Vira do Minho, rítmico, bailado, estalando os dedos e rodando de modo estonteante. Famalicão reflete bem esse bailado, essa dinâmica. Zonas periféricas como a freguesia de Gavião estão hoje em dia tão próximas da cidade que parece surreal em tempos ter calcorreado a estrada nacional para lá ir a casa de um amigo, como se fosse sair do centro urbano para uma aldeia. A via de cintura interna abraça muitas das freguesias circundantes, outrora alcançáveis apenas por Estrada Nacional e Regional aos zig-zag, ultrapassando ou ficando atrás de camiões e autocarros. Estas infraestruturas dão agora acesso a auto-estradas e vias-rápidas que levam os famalicenses a capital de distrito, Braga, ao Porto, Guimarães, Póvoa de Varzim e Vila do Conde e de volta em pouco tempo. Foi bom revisitar o passado em Vila Nova de Famalicão mas muito mais há para contar, quiçá noutro post mais adiante.

E assim, avançando nos anos vinte do século XXI, continuamos com uma evolução na continuidade de mais um Natal com restrições e onde muitos de nós, provavelmente, já com o 'boost' (estilo turbo no motor para dar mais frisson) da Pfizer, Moderna ou Johnson & Johnson; outros a terem de fazer testes antigénicos e toda a parafernália de 'passaporte Covid' para irem à terrinha durante o Natal, máscara, desinfectantes. E uma nova dinâmica de trabalho (teletrabalho) e telescola. Outros ainda recusam terminantemente a vacina e tudo o que é exigido em nome da saúde pública. Creio que no futuro poucos recordarão estes anos com nostalgia, estamos todos confusos, exaustos e ainda mais para aqueles que têm entes queridos em hospitais sem os puderem visitar (por vezes até ao fim), a situação é ainda mais dramática - para os doentes e para a família.

Um grande bem haja para todos os leitores e seguidores deste blogue. Boas Festas! Com o A que neste espaço cabem todas as letras. 




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