quinta-feira, 20 de julho de 2017

A "PiSlónia" a recordar 1989...


"Portuguesmente falando" Jarosław Kaczyński teve recentemente um "ataque de caspa" no Parlamento polaco, o Sejm. Nada como aquela expressão idiomática portuguesa para expressar o zeitgeist do momento neste país da Europa Central. Desde o passado Domingo os protestos da oposição são diários contra a intenção do partido PiS (Lei e Justiça) em tomar o controlo absoluto do Surpremo Tribunal, i.e, passando leis que impedem o mesmo de as tornar anticonstitucionais.

O partido no poder não abdica desta decisão e só o Direito de Veto presidencial poderá reverter tudo, o problema é que o Presidente foi eleito pelo PiS...



A cartada final seria se o PiS conseguisse ter o Ministro da Justiça a nomear - e evidentemente a demitir - os juízes do Surpremo Tribunal. O argumento de Kaczyński é o de existirem elementos da outrora "PRL" ou República Popular da Polónia na dita instituição; os infiltrados, os "comunas", a "esquerdalha" como assim são adjectivados. 

A situação revela-se de tal forma grave que a UE considera sanções para a Polónia, nunca antes vistas, caso o PiS vá para a frente com esta decisão. A sanção mais grave porventura, será cancelar o direito de voto da Polónia a nível do Parlamento Europeu o que levou outro polaco, Donald Tusk, o Presidente do Conselho Europeu, a pedir uma reunião de emergência com o Presidente em funções.

Andrzej Duda, o Presidente da República, está debaixo de uma pressão imensa. Por um lado a sua lealdade a Jarosław Kaczyński e por outro o possível Direito de Veto, que só este tem, em impedir esta alteração de raiz à constituição da Polónia. Está neste momento nas mãos do Presidente Duda ficar na História da Polónia como herói ou como vilão, ainda que isto varie proporcionalmente a quem ficará afectado com o sim ou o não do veto... 

A oposição reuniu-se hoje em frente do Palácio Presidencial em Varsóvia, na charmosa Stare Miasto da capital, para um protesto monumental (dizem mais de 50.000 almas apenas em Varsóvia e outras tantas nas grande urbes). Facto referido em rodapé pelo canal estatal TVP - e em números muito menores - (canal esse agora jocosamente denominado de TVPiS...) mas amplamente noticiado pelos meios de comunicação social sem associações ao partido no poder ou por aqueles ligado à oposição.



Membros da oposição conhecidos do grande público, o Ex-Director do Tribunal Constitucional, Adam Strzembosz, idoso mas muito lúcido, discursaram com argumentos sólidos e entre palavras de ordem como "Oposição Unida!", "Polónia livre e Europeia!" e outros claramente provocatórios como denominarem o PiS de "Comunas" pela galopante censura e perseguição à oposição bem como o recurso ás autoridades para prenderem e levarem a braços manifestantes... A recordar protestos do passado como aqueles nos anos 80, em especial os que levaram ao colapso do regime Comunista-Socialista em 1989 e a posterior implementação da Democracia na Polónia.

Adam Strzembosz, ex-Director do Surpremo Tribunal Constitucional da Polónia fez questão em deixar uma mensagem a Kaczyński "há momentos aos quais não podemos passar ao lado [...] Disse ao Presidente (Kaczyński) para não se sujar com esta lei, porque um dia vão dizer que ele introduziu uma lei de responsabilidade colectiva. Isto terá conotações históricas".

Pela voz da ala dura do PiS e fidelisima a Jarosław Kaczyński, como a Primeira-Ministra Szydło, a opinião pública é inundada, sobretudo através do canal TVP, com mensagens patrióticas a relacionarem os protestos como falta de sentido patriótico, obediência cega à elite da União Europeia, que de acordo com o PIS, interfere com os assuntos e política interna da Polónia, e manobras de bastidores dos resquícios do "ancient règime", deposto, entre outros, por os irmãos Kaczyński.


Neste caldeirão, actual e em desenvolvimento, o líder do PiS, teve o dito "ataque de caspa" no Parlamento, mostrando-se lívido e agressivo com os protestos e com a movimentação da oposição. Visivelmente transtornado o político disse alto e em bom som (sic):

"Não limpem os vossos focinhos de traidores com o nome do meu falecido irmão. Vocês destruíram-no, vocês mataram-no! Vocês são a escória!"

A reacção não se fez esperar... Entre apupos e acusações a oposição foi peremptória em afirmar que Kaczyński finalmente deixou cair a sua máscara de hipócrita e vingativo. Será este o leit motif por trás da decisão de interferir com a Lei e funcionamento das altas instituições judiciais do país?

Uma vingança pela oposição (na altura governo) que nunca concordou com a teoria de atentado no trágico "Acidente de Smolensk" em 2010 e até com o facto de colocarem o cadáver do Presidente em Cracóvia (no Palácio de Wawel - correspondente ao Panteão Nacional em Portugal). Oposição essa que, no sua convicção, eventualmente conspirou, com a Rússia, para que a aeronave presidencial se despenhasse?

Os motivos pessoais de Kaczyński parecem arrastar a Polónia para uma instabilidade política sem precedentes desde 1989, ano em que décadas de um regime totalitário absurdo e mantido com mão-de-ferro Soviética chegou ao fim abrindo as portas para que a este país finalmente se encontrasse consigo próprio e posteriormente com o outro lado do hemisfério, com o qual se identifica em inúmeros aspectos, mantendo a sua identidade e voz no  continente europeu, ainda que não forçosamente de mão dada com a Igreja Católica e com valores conservadores a que nem todos os polacos aspiram, apoiam e suportam.










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