domingo, 20 de setembro de 2015

Tempo de eleições em tempo de crise de refugiados e medo de abrir o Facebook


Depois de ter recebido na volta do correio o panfleto eleitoral do PPD/PSD CDS-PP, sendo cumprimentado a 3500 quilómetros da pátria, por Passos Coelho e Paulo Portas, recebi, poucos dias depois, do Ministério da Administração Interna (Administração Eleitoral), um envelope com taxa paga contendo outros dois envelopes, instruções e o boletim eleitoral da República Portuguesa. Foi a primeira vez desde que vivo neste pais que me dão a possibilidade de votar nas forças politicas portuguesas sem ter de me deslocar aos serviços consulares da Embaixada de Portugal na Polónia.

Kit do emigrante. Boletim de voto, instruções, dois envelopes. O verde dentro do branco e enviar... 


Pela circunstância de viver na Europa Central - ou de Leste se preferirem - há mais de dez anos and counting e inevitavelmente estar cada mais afastado do mundo politico português e mais próximo do polaco foi com alguma surpresa que constatei a existência de alguns partidos como o Livre/Tempo de Avançar, Pessoas-Animais-Natureza, PTP-MAS, Juntos pelo Povo, Nós, Cidadãos, e claro os do costume onde se incluem os do Bloco Central e os da Esquerda comunista com a tradicional Foice, o Martelo e a estrela de cinco pontas, algo que na Polónia é impensável de ocorrer depois da amarga experiência de 50 anos com a URSS e a semi-ocupação desta parte da Europa depois do final da II Grande Guerra.
Afinal sob esse símbolo foram cometidos genocídios, massacres, chacinas, perseguições e opressão tal como um outro, usurpado por os nacionais socialistas alemães, no principio dos anos 30 do século passado mas como é Portugal ninguém se ofende e assim continua a ser usado...

Pela minha parte o voto irá para quem dele precisa e tem ideias mais do que manter a velha lenga-lenga, responsável pela dicotomia PS-PSD, PSD-PS, que tem caracterizado os nossos 40 anos de democracia. O dito voto-útil servirá apenas os mesmos de sempre e parece-me que só no dia em que os "suspeitos do costume" forem finalmente corridos do poder, quando deixarem de haver lugares públicos preenchidos pelos compadres ligados aos dois grandes partidos nacionais e à eminência parda maçónica, onde os bons empregos são obtidos (ou retirados) pela força de cunhas e favores mais do que por mérito próprio, sendo apenas mais uma dança de cadeiras, só então irá ocorrer alguma mudança de vulto no nosso país.


Crise de refugiados, de Jihadistas, de migrantes económicos ou crise humanitária?

De tudo um pouco. A verdade é que não parece haver um meio-termo nesta crise que veio para ficar e nem o Outono a irá abrandar mesmo que na Europa de Leste o frio rapidamente chegue a temperaturas negativas durante a noite estando provavelmente a dois meses de distância. 

Mapa da Crise. O "corredor" dos refugiados que começa na Turquia estendendo-se pela Macedónia, Grécia, Servia, Hungria, Áustria e destino a Alemanha (fonte BBC). 

E se de certo modo todos tiverem em determinado ponto razão? É visível que na multidão que tenta atravessar a Turquia em direcção à Grécia e à Hungria não estão apenas homens mas também famílias, mulheres e crianças. É também sabido que os sírios e curdos de classe-média e média-alta pagaram a traficantes para entrar ilegalmente na Europa, não apenas saírem vivos das fronteiras da Síria e Curdistão mas também do caldeirão de conflitos e constante estado de guerra que afecta todo o Médio-Oriente e grande parte do Norte de África. A Europa, sobretudo a do Norte adivinha-se como o El Dorado para milhões nas regiões mais pobres do hemisfério sul. 

É agora sabido que os braços abertos de Angela Merkel (a Mama Merkel como lhe chamam) aos refugiados da Síria, outrora um dos países islâmicos mais tolerantes do Médio-Oriente - apesar de tudo - são agora braços cruzados e assim que a Hungria e a Servia fecharam as fronteiras em efeito dominó pelo encerramento quase súbito das fronteiras da Alemanha e Áustria, os problemas graves rapidamente se revelaram e alastraram a toda a Europa com manifestações contra e a favor dos refugiados e um crescente sentimento contra o Islão. 

Espectacular filmagem de drone mostrando a fronteira entre a Hungria e a Servia. O ponto de partida para a entrada dos refugiados e migrantes na UE.

Uma nova cortina-de-ferro estende-se agora nas fronteiras da UE com a Servia e o exército húngaro, convocado pelo polémico Primeiro-Ministro húngaro Viktor Orban, simpatizante de politicas de extrema-direita, patriota e pouco interessado nos ditames de Bruxelas, patrulha as fronteiras depois da aprovação de leis (ditas draconianas) anti-emigração sobretudo com ilegais. Um braço-de-ferro entre os sérvios e os húngaros não serve para controlar os refugiados e os migrantes económicos entre eles que agora caminham centenas de quilómetros entre campos onde milhares de minas anti-pessoal do conflito de há duas décadas estão ainda por despoletar.

Antes desta crise se tornar mediática mais a Norte, em Calais na França, a policia francesa e britânica viam-se (vêem-se) em palpos de aranha para controlar a crescente vaga de ilegais a tentar atravessar o Túnel da Mancha, os ferry-boat dentro de camiões TIR, escondidos em automóveis e autocarros, provocando perdas de toda a mercadoria e multas pesadíssimas aos motoristas em infracção - muitos deles nem se apercebendo da carga extra que traziam. Neste vaga estão também imensos ilegais, migrantes económicos do Magrebe, na procura de condições de vida facilitadas pelo estado-social em países como o Reino Unido, Suécia e Alemanha. 

O politicamente correcto de pés bem assentes no Ocidente não permite que se discuta livremente, ou pelo menos sem que alguém seja acusado de xenofobia ou racismo, um facto, já confirmado pela imprensa oficial, a infiltração na Europa de Jihadistas (extremistas) ligados ao ISIS. Um monstro que cresceu na garagem assim que Saddam Hussein e Kadafi desapareceram da cena. Tal como outros grupos de guerrilha, que serviram os interesses das grandes potencias (EUA e Rússia) sobretudo no Afeganistão, o ISIS é um dos monstros alimentado pela politica externa do Ocidente e pelos interesses económicos que o Médio-Oriente proporciona. 

Há quem refira a "Maldição de Kadafi". Na realidade o ditador líbio sabia perfeitamente que a estabilidade politica do seu país e dos países circundantes seria afectada se o eliminassem, uma profecia que se está agora a realizar com uma migração sem precedentes de povos vindos de países em guerra e em conflitos de longa duração no Norte de África e Médio-Oriente no continente europeu.  
Muammar Kadafi tinha vaticinado que uma Líbia sem estabilidade causaria o caos no mediterrâneo, uma self-fulfilling profecy do ditador que, ironicamente, servia como tampão para os movimentos migratórios do Norte de África. Assad também irá ter de sair da cena ainda que aqui seja apoiado pela Federação Russa, um conflito sério entre os EUA e a Rússia que está a começar a escalar.

Não à islamização da Europa em manifestação contra o suporte aos refugiados. Teve lugar em Varsóvia e Łódź (imagem AFP - The Independent.
A Europa pouco habituada a ter guerra depois de 1945, com a excepção do conflito centrado nos Balcãs em 1999, não parece aceitar de bom grado a vaga de refugiados ainda que sejam em número muito inferior aos que se encontram nos países vizinhos da Síria e Líbia, sobretudo na Turquia e Jordânia. 

Apoio aos refugiados; "Solidariedade com os refugiados". O logótipo do Sindicato Livre Solidariedade visto numa manifestação a favor em Varsóvia (imagem Reuters - The Independent). 
O Facebook por exemplo tornou-se uma arena de opiniões entre quem apoia incondicionalmente e por razões humanitárias o apoio aos refugiados de guerra e aqueles que o vêem como uma invasão islâmica ao estilo Cavalo de Tróia ou como migração económica massiva para países com benefícios sociais e sobretudo a eterna questão religiosa do avanço do Islão numa Europa com raízes cristãs mas onde o elemento religioso tem vindo a perder importância na vida dos seus cidadãos.

Todos têm de certo modo um ponto a favor e entre aqueles que porventura se revelam ingénuos e aqueles que deixam cair a máscara do politicamente correcto para revelarem a sua natureza xenófoba e amiúde sanguinária um facto parece ser evidente. O futuro do nosso velho continente irá ter inevitavelmente o elemento islâmico presente, onde agora apenas se vêm igrejas e elementos relacionados com o cristianismo irão ser erigidos minaretes e mesquitas resta saber é quais as consequências e o preço a pagar a longo-prazo por essa aculturação. 


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