terça-feira, 23 de junho de 2015

Portugal e Espanha na Polónia - nós os portugueses - a faixa cinzenta


Com honrosas excepções a maior parte dos europeus sentem alguma dificuldade em distinguir as nuances entre os dois povos ibéricos sendo de notar um maior conhecimento da cultura espanhola do que a portuguesa, pelo menos no que toca aos estereótipos e aquilo que chamamos de "para inglês ver", ou seja, o que nos serve apenas para alimentar e fazer crescer a indústria do turismo e lazer.

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Península Ibérica e parte de Marrocos vistos a partir da IST (International Space Station)


Antes de mais um pedido de desculpas aos leitores pela falta de actualizações do blogue Um Português na Polónia mas razoes profissionais e menos disponibilidade ditam este hiato entre "posts".

A revista semanal de automóveis polaca, a AutoŚwiat, tem sempre uns artigos de Verão para os polacos que se fazem à estrada Europa fora, desta vez o suplemento intitulado Samochodem po Europie (De carro pela Europa) pretende resumir quais as atracções principais, custos de portagem e combustíveis e quais as contravenções mais pesadas a quem se aventurar nas quatro ou duas rodas. 

Portugal e Espanha aparecem juntos - como quase sempre - e o titulo do artigo a negrito refere "Flamenco i Korrida" como dois dos elementos mais característicos da... Península Ibérica.

Traduzindo:

Flamenco e touradas - Dois dos mais característicos elementos da Península Ibérica. Bastam algumas noites para conhecer o temperamento espanhol - em muitos bares a vida nocturna começa tarde. Lá chegando (graças à fantástica rede de autoestradas até ao Sul de Espanha se chega rápido ainda que não seja barato) esperando-nos praias quentes e numerosos monumentos - podem-se passar férias apenas em Barcelona. Em Espanha deve-se ter em atenção às multas elevadas quando se viola o código da estrada.

Situado no fim da Europa, Portugal (com os Açores e a Madeira) é uma proposta para os que buscam ambos silencio e entretenimento.

É certo que nao se pode esperar muito de um artigo numa revista de automóveis (copy-paste da alemã AutoMotor und Sport) mas por aqui se nota o que por vezes sentimos no estrangeiro sendo portugueses. Temos os espanhóis e o depois os portugueses, esse povo que fala um género de espanhol, têm um bonito país ao lado de Espanha e mostraram ao mundo grandes futebolistas como Eusébio, Luís Figo e Cristiano Ronaldo. Ah! E o Vinho do Porto. Alguns dizem sermos o Brasil da Europa e a avaliar pelo crescimento da economia brasileira no panorama mundial e nos brasileiros a residirem em Portugal e a aculturação que naturalmente acontece é um epíteto que se vai tornando uma realidade.

Nas questões culinárias o assunto descamba ainda mais quando ao lado do nosso antigo rectângulo conquistado a espada temos a conhecida paella, o gazpacho, as tortillas, mejillones, pratos vários de "pescado", jamón ibérico, chuletillas e o bacalao do País Basco ainda que orgulhosamente tenhamos o monopólio do bacalhau como se fosse o estandarte nacional de Portugal, talvez a par com o pastel de nata e o Vinho do Porto mas até nisso os espanhóis dão cartas com os vinhos La Rioja, Valdepeñas, Carineña entre outras regiões demarcadas.

Brincamos com tudo... O famoso impropério português (e galego para quem não sabe) no conhecido cartaz britânico Keep Calm.


Somos considerados mais sossegados que os espanhóis e o nosso idioma ajuda a isso porventura com as vogais mais fechadas e os sons mais guturais que distinguem sem margem para duvidas o português do espanhol. A nossa maneira de ser mais reservada e - pelo que me dizem os polacos - mais educada ou "polite" na língua inglesa - é de certo modo mais apreciada pelos estrangeiros por ser menos chocante do que os nossos vizinhos no entanto há que privar com espanhóis e conhecer o seu país para entender que o que é tido como rude e malcriado é o seu modo absolutamente natural de lidar com os outros e acima de tudo uma absoluta e clara sinceridade que em Portugal dizemos em jeito de eufemismo de alguém "sem papas na língua". Particularmente aprecio isso cada vez mais, deve ser a costela galega do bisavô Augusto...

Ao longo destes doze anos a viver na Polónia ainda me custa a aceitar a existência da tal "faixa cinzenta" no que toca à distinção entre Portugal e Espanha - mais falta de paciência em explicar as diferenças do que outra coisa - mas se aceitarmos que no fundo somos apenas povos ibéricos com características distintas e sobretudo dois países com uma História comum e rica então tudo se torna mais compreensível ainda que para mim flamenco em Portugal é o nosso saboroso queijo flamengo e corridas só se forem ou no Autódromo do Estoril ou de viaturas clássicas...




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