terça-feira, 24 de junho de 2014

O escândalo e as escutas de Sikorski


As águas calmas em que navegava o governo do primeiro-ministro polaco Donald Dusk agitam-se face à tormenta causada pelos ventos levantados pelo ministro dos negócios estrangeiros Radek Sikorski em consequência de escutas ilegais entre o mesmo e o ex-ministro das finanças Jacek Rostowski. A publicação Wprost obteve as conversações e publicou-as levando o escândalo para fora das fronteiras da Polónia atingindo especialmente as relações diplomáticas entre o Reino Unido e os Estados Unidos da América. 


A revista Wprost e a sua capa "Liberdade de Expressão" como o lettering do Sindicato Solidariedade a recordar tempos de opressão e combate aos repressores.  


"Ele f.... tudo, e não o entende". Foi deste modo que Sikorski se referiu aos planos de reforma das relações entre o Reino Unido e a UE sugeridos por David Cameron. 
A conversa cai particularmente mal numa altura em que os ingleses se sentem ressabiados com os números da emigração nas ilhas britânicas e com a sobrecarga no seu sistema de subsídios e segurança social a par com o crescimento de sentimentos anti-UE alimentados em parte por o partido nacionalista de direita e euro-céptico UKIP.


Na conversa o politico polaco comenta a falta de competência de Cameron e a conveniência politica em que o Reino Unido faça parte da UE contribuindo e continuando com as suas fronteiras abertas à emigração. A contrapartida para o apoio da Polónia às reformas seria a entrega de uma montanha de ouro (sic)... 

A aliança entre os EUA e a Polónia também foram alvo dos comentários azedos de Sikorski com Rostowski: "Sabe que mais? A aliança polaco-americana não vale nada...", "é francamente prejudicial porque cria uma falsa sensação de segurança... uma treta. Vamos é entrar em conflito com os alemães e com os russos porque pensamos que tudo está super e andamos a fazer uma mamada aos americanos. Uns falhados. Uns autênticos falhados..."

As palavras do ministro polaco tornaram as águas calmas da politica polaca num tsunami que, não fosse o mundial de futebol e a silly season do Verão que que agora começa, tomaria proporções catastróficas. Em consequência do artigo da Wprost o Ministério Público abriu uma investigação às escutas - que suspeitavam virem dos serviços secretos russos - entrando inclusivamente na redacção da revista prontos a confiscar computadores incluindo o portátil do editor e, alegadamente, provocando agressões a fazer recordar os tempos idos da República Popular da Polónia. 

Entre as ondas crispadas do escândalo surgem contestações à liberdade de imprensa, à tentativa de colocar uma mordaça no jornalismo de investigação e comparações com a imprensa da Rússia de Putin, e a dos vizinhos da Ucrânia e Bielorrússia.  Aparecem os primeiros bodes-expiatórios, neste caso o gerente do restaurante Sowa i Przyjaciele (Coruja e Amigos), onde as conversas foram gravadas, que foi libertado depois de pagar uma fiança de 40.000 PLN (cerca de 10.000€). 

Existem sugestões que as escutas vazadas são nada mais nada menos que um método para acabar com o partido Plataforma Cívica e com a governação de Tusk. Um pré-golpe de estado como alguns sugerem. 

Os próximos dias continuarão em tormenta mas tal como a canção dos Xutos & Pontapés é preciso um "homem do leme" e ainda não se sabe se Tusk estará à altura...





1 comentário:

Alberto Gil disse...

Na política já quase nada se perde nada se cria tudo se transforma.... Não disse nada que não fosse verdade. Falhou foi no local onde o fazer!!! Enfim disso temos todos os dias em Portugal.