sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Desastre de Smolensk e o relatório final do MAK

Kurwa mać! Foi o derradeiro grito de um dos pilotos do Tupolev Tu-154 presidencial que se despenhou em Smolensk, na Rússia, a 10 de Abril de 2010. O comité de investigação russo, denominado de MAK, foi peremptório em atribuir as culpas do acidente aos pilotos polacos.

  
As simulações computorizadas do acidente de aviação foram prontamente divulgadas pelos russos nos media e no Youtube. Baseados nos parâmetros de voo dados pelas caixas negras a rota do Tu-154 é possível reconstituir com fidelidade o que aconteceu naquela fatídica manhã de Abril, tudo acompanhado pela "trilha sonora" da tripulação com a torre de controlo do aeroporto militar em Smolensk. Realça-se desde logo as condições fora do vulgar em que aterraria um avião presidencial. A torre de controlo (na realidade uma barraca paralela à pista) ao contrário dos aeroportos civis, praticamente falou em russo, deixando o inglês para segundo plano e o esforço para o capitão que entendia esse idioma. Os pilotos insistem na aterragem apesar da sugestão da torre em aterrarem noutro aeroporto e não cederam. A dada altura um deles desabafa que "ele vai ficar louco" se não aterrassem. 

Segundo o relatório havia nevoeiro e a visibilidade era reduzida não permitindo a visualização do terreno e da pista - apesar da filha de Kaczyński insistir que o nevoeiro foi "fabricado" e que as luzes foram desviadas para outra localização. Uma dita teoria da conspiração que atribui aos russos culpas na fabricação de uma história alternativa para esconderem um atentado. No relatório do MAK há referencias à interferência de um elemento exterior à tripulação - o Comandante-em-chefe das Forças Armadas da Polónia (Andrzej Blasik) que, a dado momento, estaria na cabine em conversa com os pilotos.
Na simulação podemos constatar o padrão ideal de voo e o real. A rota real foi errónea e os momentos cruciais para a aterragem totalmente errados tal como o facto de terem utilizado os sistemas automáticos de navegação (piloto-automático) e ignorado sistematicamente as mensagens do sistema de navegação AWACS (Airborne Warning and Control System) que avisa sobre a proximidade da aeronave ao solo (note-se que os polacos chegaram a sugerir que o sistema estava desligado). Sempre que a aeronave está demasiado perto do mesmo e há o risco eminente de acidente o sistema dispara um alerta sonoro que diz "terrain" (terreno em inglês), o qual vai aumentando de cadência até que se oiça pull-up! (levantar!).

 Foi aqui, nestes poucos segundos, que tudo se decidiu. Entre acelerar os motores e subir - abortando a aterragem - o piloto prosseguiu até se ouvir  a colisão com as árvores na floresta nos arredores do aeroporto e o desespero de quem se apercebeu que o fim era inevitável. O Tupolev perderia uma asa na colisão com as árvores e tombaria para o seu lado esquerdo, virando-se ao contrário e incendiando a querosene nos tanques. 

Esta foi a versão russa. Os polacos ainda não publicaram a sua mas atribuem culpas à falta de competência da torre de controlo russa. As guerras de informação sucedem-se. Os media russos convictos da  competência, eficácia e honestidade dos seus peritos, os media polacos pondo em causa o "velho amigo" que tantos dissabores lhes deu ao longo dos séculos. O Primeiro-Ministro polaco Donald Tusk põe água na fervura tentando um equilíbrio que não belisque as relações entre os dois país. Tusk assume a culpa do acidente dada pelo relatório mas reitera que o mesmo está incompleto por omissão de elementos importantes à investigação dados pela comissão independente polaca.

A Polónia é um país de mártires, os polacos um povo habituado a estas surpresas do destino, e algo desconfiados por natureza. O acidente de  Kaczyński com parte da elite polaca dos tempos do Solidarność prolonga a tragédia da floresta de Katin, a mentira de meio-século que os polacos sempre souberam e que os russos negaram sistematicamente. 

Kaczyński e a sua mulher estão no castelo de Wawel em Cracóvia, repousam os seus restos mortais  em túmulos de mármore junto das figuras históricas e de craveira da nação polaca. Se a culpa da pressão exercida nos pilotos foi do Comandante-em-chefe ou do próprio Kaczyński provavelmente nunca saberemos. Quem foram os verdadeiros culpados?

A História já foi escrita e o grande momentum polaco está para chegar. A beatificação de João Paulo II, a 1 de Maio de 2011, e o aniversário da morte de Kaczyński a 10 de Abril.









1 comentário:

Ryan disse...

O Camarate Polaco. Eu quase que diria que a procissao ainda vai no adro e isto por causa da teimosia do irmao gemeo do falecido Presidente. O proprio Primeiro-Minitro ja teve de vir por agua na fervura mas a obstinacao deste senhor e de ferro. Quanto ao acidente os russos tem culpa mas mais do que isso foi o que os Polacos deveriam ter evitado aterrar em Smolensk.