Um interessante artigo no blogue de Nuno Bernardes, acerca da Bielorrússia, intitulado Dona Polónia e os Seus Vizinhos, vol. 2 - Bielorrússia, levou-me a pesquisar sobre outros dos nossos vizinhos de Leste; a Ucrânia. Um gigantesco país europeu e fronteiriço com a Polónia - cerca de 530 Km de fronteira com as Voivodas de Lubelskie e Podkarpackie.
A imensidão das pradarias ucranianas, um cenário semelhante àquele que frequentemente encontramos na Polónia.
Quase com um preludio do meu futuro na Europa Central o primeiro contacto que tive com um europeu de Leste foi com um ucraniano (com dentes de ouro) de nome Igor. Corria o ano de 2001 e já sabia que havia sido aceite para fazer um Erasmus na Polónia em Setembro, em Łódź, na universidade Wyzsza Szkoła Humanistyczno Ekonomiczna w Łodźi. Nesse Verão o prédio onde então morava recebia finalmente obras de fundo que passavam por reparar as varandas, as paredes, os caleiros e uma pintura nova.
Quase com um preludio do meu futuro na Europa Central o primeiro contacto que tive com um europeu de Leste foi com um ucraniano (com dentes de ouro) de nome Igor. Corria o ano de 2001 e já sabia que havia sido aceite para fazer um Erasmus na Polónia em Setembro, em Łódź, na universidade Wyzsza Szkoła Humanistyczno Ekonomiczna w Łodźi. Nesse Verão o prédio onde então morava recebia finalmente obras de fundo que passavam por reparar as varandas, as paredes, os caleiros e uma pintura nova.
O empreiteiro, um verdadeiro pato bravo famalicense, sem instrução, cultura ou sequer humildade havia sido encontrado por o vizinho do rés-do-chão. Esta triste figura de empreiteiro português-casca-grossa havia contratado - como tantos outros - trabalhadores imigrantes ilegais e Igor era um deles. Vindo recentemente da Ucrânia, de Kiev, dizia ser Engenheiro Mecânico e estava em Portugal a trabalhar na construção civil para enviar dinheiro para a sua família que passava dificuldades. Queixava-se a medo que o patrão nunca mais lhe dava o contrato (necessário à sua legalização). Igor fazia parte da segunda vaga de imigrantes ucranianos que vieram para Portugal trabalhar na construção civil - a primeira foi durante a Expo98. O pato bravo do empreiteiro gritava com tudo e com todos na sua impaciência injustificada, fruto da imensa ignorância e desmesurada insensibilidade que chegou inclusivamente a chegar ao ponto de retirar do bolso frontal do fato-de-macaco de Igor um galhardete do Futebol Clube do Porto que lhe havia dado de presente.
Tudo isto das obras acabou com uma imensa discussão plena de impropérios entre o meu vizinho António e o pato bravo que, passado um ano, recusou a reparar gratuitamente uma trampa que havia feito mal, no ano anterior - dizia ele que ia perder o pouco dinheiro que ganhou (ou que calculou sabe Deus como) mas este artigo é sobre a Ucrânia e a história de Igor terá continuado lá para os lados de Trás-os-Montes e não faço ideia como acabou.
Tudo isto das obras acabou com uma imensa discussão plena de impropérios entre o meu vizinho António e o pato bravo que, passado um ano, recusou a reparar gratuitamente uma trampa que havia feito mal, no ano anterior - dizia ele que ia perder o pouco dinheiro que ganhou (ou que calculou sabe Deus como) mas este artigo é sobre a Ucrânia e a história de Igor terá continuado lá para os lados de Trás-os-Montes e não faço ideia como acabou.
Pelo facto da Polónia pertencer à UE e ao Espaço Schengen mas também pelos conglomerados e fábricas alemãs, francesas e italianas a Oeste quase que nos esquecemos das fronteiras a Leste, com a Ucrânia e a Bielorrússia mas também a Norte com o enclave de Kaliningrado que pertence à Federação-Russa; quase como se estes países fossem o quintal das traseiras da Polónia. Curiosamente a maior parte dos europeus está longe de saber que da fronteira com a Polónia até à fronteira com a Federação Russa (para lá do Mar de Azov e das costas do Mar Negro) estão mais de 1300 km de território, uma distância equivalente aquela entre Lisboa e Barcelona! Do mesmo modo poucos sabem que em tempos a Ucrânia foi o celeiro e o açucareiro da URSS ou tampouco sabem que as relações entre os vizinhos que planeiam o Europeu de Futebol em 2012 só recentemente sofreram um volte-face. Este imenso país com 603.000 Km2 (contra os 312.000 Km2 da Polónia e 92.090 Km2 de Portugal) foi constantemente assaltado, conquistado e reconquistado por potencias estrangeiras, do império Otomano à Comunidade Polaco-Lituana passando obviamente pelos ímpetos de conquista e anexação da Rússia e também da Polónia.
No século XX a Ucrânia esteve em guerra com a Polónia e foi responsável pelo extermínio de mais de 10.000 polacos nas purgas de minorias étnicas, um episódio trágico e de uma crueldade inusitada entre povos eslavos o qual iria ter repercussões na comunidade ucraniana polaca em revanche pelos massacres e pela tentativa de aniquilação de quaisquer vestígios da cultura polaca na Ucrânia. Com o fim do Comunismo as relações entre os dois países saíram do marasmo em que se encontravam e a Polónia assumiu o papel de moderador em alguns dos grandes problemas que surgiram como a independência face à Rússia, a Revolução Laranja, a acessão da Ucrânia à UE e a assistência às minorias de polacos e ucranianos existentes em ambos os países.
A História da Ucrânia reveste-se de profunda tragédia e não vale a pena estabelecer comparações entre o drama vivido pelos polacos durante as divisões do país ou durante a II Grande Guerra mas talvez seja relevante relembrar os mais de 10 milhões (este numero é absolutamente chocante) de ucranianos mortos de fome no principio do século XX em consequência das colectivizações do energúmeno Estaline. A necessidade de alimentar a Rússia levou os Bolcheviques a exigirem dos camponeses ucranianos quotas de produção verdadeiramente incalculáveis e perante os resultados a própria NKVD (policia secreta soviética) tratou de desviar todos os produtos agrícolas com recurso à força. Famílias inteiras desapareceram e sofreram uma miséria e consternação tão grande que para nós, portugueses, custa a imaginar; afinal somos 10 milhões, o mesmo numero de ucranianos mortos de fome graças ao Comunismo.
Estaline sabia que a Ucrânia tinha tudo para ser uma nação soberana e como tal aspirava a sua independência enquanto estado de direito, nesse sentido procedeu-se ao extermínio da elite ucraniana durante a sovietização nos anos anteriores ao conflito de 1938-1945. A fome pauta-se como um dos maiores dramas da História recente da Ucrânia, não só antes como durante e depois da guerra; um país que só nos anos 90 se libertaria dos grilhões colocados pelos russos.
Em documentários que amiúde passam na televisão podemos constatar os imensos problemas que assolam a Ucrânia; desemprego, salários de miséria, alcoolismo e apatia. A imigração foi a saída de emergência de muitos ucranianos e mesmo na Polónia - que está longe de ser um país referencia da UE - podemos encontrar muitos deles, melhor integrados do que em Portugal, não só pela facilidade em dominarem a língua como pela proximidade a que estão da sua terra natal. A incontestável beleza e feminidade das mulheres eslavas tornou-as alvo preferencial das máfias de Leste em redes tráfico de seres humanos e lenocínio enquanto a robustez e compleição física do homem eslavo os tornou alvo preferencial para trabalhadores braçais. No entanto há imensos casos de sucesso e uma nação escolarizada tem facilidades que outras não têm, incluindo em Portugal, um país que há poucas décadas tinha um elevado numero de analfabetos.
Estaline sabia que a Ucrânia tinha tudo para ser uma nação soberana e como tal aspirava a sua independência enquanto estado de direito, nesse sentido procedeu-se ao extermínio da elite ucraniana durante a sovietização nos anos anteriores ao conflito de 1938-1945. A fome pauta-se como um dos maiores dramas da História recente da Ucrânia, não só antes como durante e depois da guerra; um país que só nos anos 90 se libertaria dos grilhões colocados pelos russos.
Em documentários que amiúde passam na televisão podemos constatar os imensos problemas que assolam a Ucrânia; desemprego, salários de miséria, alcoolismo e apatia. A imigração foi a saída de emergência de muitos ucranianos e mesmo na Polónia - que está longe de ser um país referencia da UE - podemos encontrar muitos deles, melhor integrados do que em Portugal, não só pela facilidade em dominarem a língua como pela proximidade a que estão da sua terra natal. A incontestável beleza e feminidade das mulheres eslavas tornou-as alvo preferencial das máfias de Leste em redes tráfico de seres humanos e lenocínio enquanto a robustez e compleição física do homem eslavo os tornou alvo preferencial para trabalhadores braçais. No entanto há imensos casos de sucesso e uma nação escolarizada tem facilidades que outras não têm, incluindo em Portugal, um país que há poucas décadas tinha um elevado numero de analfabetos.
As imagens que nos mostram dos prédios e das casas na Ucrânia têm bastantes parecenças com aquelas que vemos na Polónia, sobretudo muitas das "colmeias" construidas pelo governo central para albergarem famílias, no entanto há uma diferença substancial; enquanto na Polónia se foram fazendo obras e em muitos casos mantêm-se os edifícios renovando-os total ou parcialmente na Ucrânia vemos os mesmos em condições muito precárias, bastante danificados e sem manutenção. O mesmo se aplica ao parque automóvel que na Polónia era, até há pouco tempo atrás, um postal ilustrado de velharias dos tempos do Comintern mas que devagarinho tem vindo a mudar apesar de ainda estar atrás daquele que vemos em Portugal, sobretudo pela quantidade de veículos importados com mais de 10 anos de existência. Na Ucrânia ainda imperam os Lada e os GAZ de fabrico soviético, os Zaporejetz e os camiões, uma sociedade que nalguns casos apresenta contrastes gritantes entre os ricos (riquíssimos) e os pobres, a caricata imagem do Lada Samara enferrujado de um lado e o Mercedes classe S com motor V8 a gasolina e vidros pretos do outro.
O Comunismo deixou marcas profundas nos europeus de Leste, marcas que só a longo prazo irão desvanecer-se; a passagem de um sistema em que havia sempre emprego e os vícios para esquecer os problemas - como o tabaco e o álcool - para uma mudança radical que corresponde ao retirar o tapete de debaixo dos pés a muita gente. Ficaram os maus hábitos e para muitos só houve mesmo a possibilidade de se tornarem workaholics ou resignados, atordoados pelo paladar do vodka e do tabaco baratos que é traficado em quantidades inomináveis nas porosas mas bem guardadas fronteiras com a UE.
A Ucrânia não é somente o acidente de Chernobyl e a Diáspora ucraniana, é um país que ainda vai dar que falar, dividido entre a UE e a Rússia, com reservas de petróleo e portos no Mar Negro, com bases militares complexas construidas nos tempos da URSS, que podem vir a ser de grande utilidade para a economia da União Europeia e para as estratégias militaristas da OTAN, isto tudo começa aqui ao lado, a pouco mais de 400 km de Łódź.
Uma UE com uma Ucrânia? Resta saber se os russos alguma vez deixarão que isso aconteça...
2 comentários:
Bom Ano Novo antes de mais, estou casado com uma ucraniana já por 8 anos, estive na Ucrania por 3 vezes, 2 em finais de Maio-Junho e 1 vez no Inverno um País enorme onde as disparidades entre ricos e pobres são enormes, o que vi lá está a acontecer no nosso querido Portugal (corrupção a rodos, podridão da classe politica)fora isso passei sempre tempos agradaveis por terras eslavas, especialmente no Verão :) (mini-saias ajudam) um Pais com tanta diversidade de paisagem entre o Oeste e Este e o Mar Negro ao Sul acredito que não fosse a corrupção este seria um grande Pais e deveria ser uma lição para nós mas está se a ver que a classe Politica quer que o Zé Povinho se **** e assim vamos caminhando para o abismo, um abraço do Algarve.
Muito prazer Kauskas. Imagino o Verão na Ucrânia! :) Encontro alguns ucranianos aqui na Polónia mas como são relativamente parecidos com os polacos não se distinguem tão bem como em Portugal.
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