quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

A todos um Bom Natal!

A todos os meus leitores os desejos de um Bom Natal!


Mais um Natal passado na Polónia, em Łódź. Por vários motivos não irei à terra este ano incluindo o facto de não apreciar a ideia de viajar de avião quando sabemos de antemão que as condições meteorológicas são adversas e as aeronaves neste país, durante os meses de frio, têm de ser descongeladas quando as temperaturas caiem para valores abaixo de zero. Isto, aliado a aeroportos que são autênticos reféns de "ground crews" sem escrúpulos e grevistas (a UE tenciona interferir nisto assegurando serviços mínimos) , leva-me a não querer sujeitar a família - e a mim próprio - a estes percalços que podem muito bem estragar qualquer Natal, Ano Novo, Páscoa ou o que seja.

No meu caso, tendo uma família de origem polaca, e estando a "jogar fora de casa", lá tenho de me sujeitar a algumas das delicias que constituem a Consoada polaca ou "Wigilia" - como eles dizem. Se por um lado não vai haver carpa (mais adiante falarei nisto das carpas) como forma de "sair do Matrix" de determinados comportamentos, por outro apercebi-me que vai haver a afamada couve estragada ou kapusta zniszczona...
Fiz com a minha cara-metade compras no hipermercado Tesco no valor de 480 PLN - bons tempos em que 100 złoty enchiam um carrinho! - e ao carregar os sacos do carrinho de compras para a bagageira apercebi-me de um cheiro já conhecido mas que não posso deixar de associar a cheiro a peido. Num saco plástico estava embrulhado a bendita couve podre que foi, durante a tarde, preparada com parcimónia pela minha sogra. Senti-me meio agoniado durante umas horas mas aquilo lá acaba por ser cozinhado emanando um cheiro mais ou menos agradável...

No jantar de Natal da empresa onde trabalho acabaram por servir uma ceia tipicamente polaca que começou com muita salada de ervilha e batata cozida com maionese, peixe com creme (Śmietana) e onde o prato principal seriam pierogi ( uma espécie de rissóis) com couve e cogumelos. Pelo meio lá serviram a deliciosa sopa de cogumelos (com cogumelos selvagens) que foi o meio de reconfortar o estômago. Como de costume acabou por ganhar a cerveja e os pierogi, em função da extrema boa disposição que começava a sentir, ficaram esquecidos sendo comidos por muitos dos meus colegas polacos.

Amanhã vamos ter bacalhau na ceia de Natal. Desengane-se quem pensa que é bacalhau português que esteve de molho. Vai ser bacalhau fresco que também sabe muito bem e, em função da minha caminhada em direcção ao vegetarianismo, não vai haver carne - pela primeira vez desde que me conheço. Uma decisão tomada conscientemente, sem radicalismos e que não me faz sentir mal. Estou a viver muito bem sem consumir carne. Vai ser portanto um Natal atípico apesar de tudo mas no fim de contas são mesmo as crianças que fazem esta época ser especial e já sinto os efeitos da ansiedade de abrir as prendas no meu filho de quatro anos. Desde há quatro dias a esta parte sempre que acorda pergunta se as prendas estão na árvore.

Para finalizar fica o apontamento humorístico que presenciei no Tesco. Uma discussão por causa das carpas, uma tradição semelhante ao nosso bacalhau que leva as pessoas a fazerem figuras ridículas estando numa fila em constante tensão e prontas a andarem à porrada se necessário. Ao contrário de Portugal e dos portugueses o povo polaco, regra geral, não é muito dado a manifestações exteriores de emoções. Não é que sejam frios ou distantes, pura e simplesmente vivem a sua vida e só quando estão fora de si por estarem com fome (são um povo que não aguenta estar em jejum) ou alcoolizados os ouvimos a protestar ou a fazerem desacatos.

 Hoje foram os velhos dos barretes peludos e óculos com armações em massa e as senhoras loiras pintadas que quebraram os habituais sons do Tesco (aquelas musicas que passam ad aeternum e o zumbido dos carrinhos de transporte de mercadorias para as prateleiras). As desgraçadas das carpas querem-se fresquinhas e vivas num tanque onde mal se mexem e de onde são retiradas com uma rede para serem postas num saco plástico onde vão morrer lentamente. 

O consumo é de tal ordem que num futuro próximo há o risco de este peixe desaparecer ou tornar-se ainda mais caro do que já é - um pouco como o nosso bacalhau. Assim sendo e estando os polacos em filas e encostados uns aos outros como nos tempos do Comunismo (hábitos que estão bem enraizados) é natural que um mais finório que tente enganar o empregado da peixaria com um "esse é para mim!" acaba por despoletar uma discussão com gritos e caras vermelhas de raiva. Nota para um detalhe espantoso que tenho notado. Em discussões corriqueiras os polacos raramente usam o kurwa (foda-se) e tentam manter uma certa compostura mas nada que compare a uns tipinhos ridículos de capucho na cabeça que, numa noite qualquer de Primavera estavam  no campo de desportos aqui da vizinhança. Discutiam entre eles e então ouve-se uma voz de homem fininha a dizer alto: Kurrrrrrrrwa! (fodaaaaa-seee) seguido de um longo silencio e de uma voz rouca - Zamknie się!!! (calou!!!) Épico.







4 comentários:

Ermelinda disse...

Como vai longe o tempo em que para o jovem que não suportava bacalhau a Mãe, moi meme,sempre fazia um bom pedaço de carne assada,um pouco embaraçada perante os outros membros da familia todos a comer o bacalhau com todos.Nesse tempo ainda não andavam as gerações do teu tempo espalhados pelo mundo e muitos hoje vivendo outros Natais,fruto dos seus casamentos com pessoas de outras nacionalidades.Também aos que cá estamos falta muito desses alegres Natais,valha-nos o aumento da familia que embora longe nos dá a certeza de que há uns queridos pequenitos que andam cheios de alegria e expectativas.Aproveito grandes xicoraçoes para ti Paula e meus netinhos portulacos.

Ryan disse...

Bom Natal para ti tambem compatriota. Apesar das saudades la da terra e de o Natal poder ser festejado onde quizermos e com quem quizermos... acho que o melhor Natal mesmo e la na terra. Pode ser que a minha opiniao mude. Essa da couve com cheiro a peido fez-me lembrar Bigos de que gosto muito.... e que tem o mesmo efeito de quando eu comia a nossa feijoada em Portugal... Enfim... agora e Natal aproveita bem ainda que em terras distantes.

Anónimo disse...

Boas caro bloguer, gostei imenso do se blog.
Contudo vou pela primeira vez à polónia (LODZ)num concurso de música clássica, e os voos são super caros para a bolsa de uma estudante, neste caso pensei em ir para varsóvia há mais voos e melhores preços, no entanto precisava de uma ajuda quanto ao comboio que devo apanhar para lodz, e se há horários para depois das 23H! caso não haja uma residencia barata para uma noite porque de manhã tenho de ir para Lodz dia que começa uma das minhas provas!
Agradeçia que me pudesse ajudar!
saudações
Sofia Brito

PM Misha disse...

hehehehe!
gostei, nunca presenciei a cena mas acho-a bastante possível no tesco que tenho a 1200m de casa.