quinta-feira, 26 de novembro de 2009

O ano do Galo - Memórias num pedaço de plástico espelhado

Num e-mail que troquei recentemente com uma amiga de longa data comentava algo acerca de uma viagem de negócios que me levou, em 2005 (ano do Galo) até à China. Coincidência (ou não - pois dizem que não há coincidências) no dia seguinte encontrei numa das divisões da casa um CD-R onde tinha escrito "Viagem China". Certo que este blogue foi criado para relatar sobretudo as minhas experiências e a minha vida na Polónia mas para variar um pouco vou contar algumas das peripécias com que me deparei nesse outro mundo - a Ásia.



Cai Shen, o deus da prosperidade guarda a entrada de uma empresa em GuangDong


Trabalhei em tempos para uma empresa de abrasivos polaca. Nesse ano os clientes-chave dessa firma começavam a pressionar - na realidade a chantajarem - para se reduzirem urgentemente os preços (naquela altura o patamar exigido situava-se entre os 10% e os 15% passando para 30 a 50% a partir da crise financeira de 2008!) pois alegadamente os chineses começavam a invadir o mercado europeu com produtos semelhantes a um preço "sem concorrência".

A mensagem era clara. Ou se reduzem os preços a curto-prazo ou perdemos uma quota do mercado mas o problema não estava exactamente em reduzir os preços mas sim na debandada dos grandes grupos para o Oriente, nomeadamente para a China. A cada mês corriam boatos que uma grande empresa de cutelaria deslocalizou parte da produção para a Ásia, que um grande cliente alemão tinha despedido a maior parte do pessoal na Alemanha e deslocalizava maquinaria em grandes contentores para a China.
Num espaço de meses planeou-se a abertura de uma filial na China. Ficaria mais tarde localizada em Heshan - a cerca de 200 quilómetros de Hong Kong e não muito longe da nossa ex-colónia de Macau.
 Foram tempos de grande frenesim onde o director geral mal aquecia a cadeira no escritório, em constante "ping-pong" entre a Polónia e a China.

Depois de um aborrecido voo entre Varsóvia e Frankfurt onde apenas serviram um chocolate sem um sorriso a acompanhar e após uma ainda mais aborrecida espera no aeroporto, entrei finalmente no gigantesco Jumbo 747 da Austrian Airlines que demoraria mais de 10 horas até chegar ao seu destino em Shangai. Na Polónia estávamos em Maio, um Maio ainda fresco, com resquícios da neve - agora suja e negra - dos meses anteriores e com o som das gralhas a dizerem-nos que ainda não estamos em meses de calor. A sensação ao passar do ambiente fechado e artificial do avião para o exterior era previsível; um soco de ar quente e húmido no rosto, um tipo de clima que, diga-se em abono da verdade, não tenho saudades e só me fazia mudar de roupa várias vezes ao dia e não querer sair do conforto do ar-condicionado no hotel ou da piscina durante o dia. Sair só à noite e mesmo assim era para transpirar.

O aeroporto de Shangai é moderno e absurdamente gigantesco fazendo o conhecido aeroporto de Frankfurt parecer um velho Mercedes classe S a gasóleo em comparação com um Lexus híbrido. Sinal de que estamos na Ásia é o barulho das pessoas a falarem. Qualquer aeroporto europeu tem o silêncio da Catedral de Notre Dame quando em comparação com o ruído dos aeroportos, ruas e locais públicos chineses, um verdadeiro estádio de futebol. Obviamente que a quantidade e concentração de pessoas também é visivelmente maior - muito maior - que na nossa velha Europa.

Shangai é uma metrópole, uma cidade tão grande e agitada que fez, aos meus olhos, Varsóvia e Lisboa parecem uma pequena cidade. Os táxis foram outra surpresa. O forro do tejadilho do VW Santana em que entrei (famoso no Brasil dos anos 80) era em plástico de alguidar e o motorista fica fechado num pequeno cubículo de plexiglas onde por vezes podemos ver as garrafas onde urinam, tudo para não saírem do carro durante as horas de trabalho.
Do you speak English? Pergunto-lhe. - No, no no... diz-me o motorista ao mesmo tempo que abana vigorosamente o indicador. Mostro-lhe um mapa imprimido que trazia na pasta onde se pode ver o hotel onde quero ficar. O chinês abana a cabeça a confirmar e arranca rapidamente por entre o trânsito intenso de Shangai. Procuro um cinto de segurança mas constato com surpresa que entre a cinzenta napa grossa do banco traseiro não encontro os trincos do cinto e tampouco os próprios, não estão instalados, umas tampinhas plásticas cobrem os locais de fixação dos mesmos - como no Fiat de 1973 que era do meu pai!


Anos de progresso a assistirmos a crash-tests, aos pré-tensores dos cintos de segurança, ao advento do airbag duplo, às barras de protecção nas portas, aos sidebags e airbag de cortina e joelhos, ABS, ESP, EDB para isto... uma pequena viagem a tempos em que andávamos sem cintos de segurança e pouco preocupados se podíamos bater ou ficar inválidos num acidente de viação. Recostei-me feliz por ter um táxi com ar-condicionado e deixei para trás as preocupações ocidentais de acidentologia enquanto apreciava a selva urbana pejada de táxis, scooters, bicicletas, fumo, autocarros e muitos peões nas ruas.

Foi tempo de descansar o mais possível. Não só os efeitos do jet-lag se faziam sentir como no dia seguinte teríamos de estar em Suzhou.

Procurar um restaurante chinês em Suzhou... 

A piada era fácil. Quando surgiu a pergunta onde íamos jantar.

- We can try to find a Chinese restaurant.

Perto do hotel eram vários mas quem escolheu o local de repasto foram os chineses da equipa do SIP (Weiting Town Investment Promotion Center). Esperava-nos à porta do hotel uma van Chrysler Voyager (Dodge na China) azul com os vidros escuros. Um chinês do SIP chamado Kevin (o seu nome ocidentalizado), recém-licenciado, vestido em camisa de Macau e calça de vinco preta (a fazer-me recordar os empregados de um restaurante lá de Famalicão), orientou-nos levando-nos a um enorme restaurante onde nos esperava um sala, reservada só para nós.

Por entre uma conversa banal, que sabia estar viciada à partida pois não havia ainda um interesse real em investir em Suzhou - procedíamos nesse tempo a uma prospecção -  foram-nos servidos vários pratos pois na tradição chinesa de bem comer tem de haver variedade e abundância. Primeira grande diferença para os nossos restaurantes chineses. Existe uma plataforma rotativa na mesa para as pessoas se irem servindo e os guardanapos são servidos embrulhados numa embalagem plástica mantendo o guardanapo húmido, na realidade parecia uma pequena toalha de turco. Por vezes sentamos-nos numa espécie de fosso ao redor da mesa, com umas almofadinhas debaixo das nádegas.


 Nunca me ajeitei com os pauzinhos, falta-me a paciência e o jeito por isso pedi sempre talheres. A comida estava preparada com condimentos e especiarias picantes onde não faltava o "gindungo" ou Piri-Piri que os chineses fizeram questão de nos dizer para não comermos, como se se tratasse de uma espécie de resíduo radioactivo. Valeu a cerveja Tsingtao para apagar o fogo que ardia na boca. 

Kevin, sentado ao meu lado, tentava ter uma conversa paralela comigo para saber melhor o que estávamos ali a fazer e qual a ideia do projecto que tínhamos em mente. Depressa me apercebi que quando se trata de funcionários do governo nem vale a pena perder muito tempo. Dão-se respostas breves e muitos agradecimentos. Ali tudo está planeado para se sacar informações o mais possível e por mostrar trabalho às chefias e cúpulas. A simpatia é sempre proporcional ao investimento e do mesmo modo que os analisamos eles também o fizeram. Num espaço de dois dias, após apresentações multimédia no edifício do SIP, e inúmeras visitas a parques industriais, os chineses aperceberam-se que dos "polacos" não havia nada concreto e a primeira retaliação foi chamarem um táxi assim que pedimos para nos levarem de volta ao hotel, a Dodge Voyager estava repentinamente indisponível. Pensei para os meus botões: "toma lá que já almoçaste".

Naquela pequena cidade de Weiting Town na província de Suzhou (pequena como Braga ou Częstochowa) tudo cresce a olhos vistos e tenho a certeza que o que vi há quatro anos atrás estará a esta hora substancialmente diferente. Os parques industriais feitos em pré-fabricado crescem como cogumelos e ali abundam os empreiteiros e os altos funcionários do estado - a nova classe média-alta chinesa - que vivem nas suas vilas em condomínio fechado, em condições que, em comparação com a maioria dos seus concidadãos, se podem considerar como faustosas.


 Comecei-me a aperceber dos contrastes entre a China rica e a China pobre quando observamos os pormenores. Nas ruas a maior parte das pessoas andam de bicicleta ou a pé, alguns (muitos) de scooters eléctricas e uma minoria de carro. Não é estranho ver pessoas a atravessarem avenidas largas como se estivessem no campo, sem se apercebem do perigo que correm. Da janela do quarto do hotel vi várias vezes os táxis a buzinarem freneticamente para peões aparentemente despreocupados.

Uma outra visita, a um fabricante de cutelaria sino-americano estava agendada para a manhã seguinte. Visita essa que me levaria a espreitar a China rural e finalmente conhecer Hong Kong mas isso será contado noutra ocasião que a prosa já vai longa e não quero entediar os meus leitores...













2 comentários:

Paulo Soska Oliveira disse...

Escreve lá mais pá, que estou ha uma série de dias com águia na boca para saber o resto :)

Anónimo disse...

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