quinta-feira, 4 de junho de 2009

Os 20 anos de Democracia polaca - um olhar vindo de dentro da ex-Cortina de Ferro


Lech Wałęsa derruba simbolicamente a primeira peça do dominó que levaria ao colapso do Comunismo na Europa Central e de Leste. Foto retirada do Gazeta online - Peter Andrews da Reuters

Quando era miúdo havia uma canção do Sting que me causava arrepios, chamava-se Russians e tinha como refrão if the russians love their children too - se os russos também amam as suas crianças.

A Polónia foi durante mais de quatro décadas parte do Bloco Soviético, do COMINTERN, do Pacto de Varsóvia, eram os amigos do Cunhal e do Agostinho Neto, eram os amigos da URSS (Urse como dizia o meu avô) inimigos dos americanos e dos ingleses, eram os povos que podiam invadir-nos, atirar bombas atómicas em Freixo de Espada à Cinta, em Venda das Raparigas e no Sobral de Monte Agraço, perseguir as vendedeiras de peixe da Marinha Grande e executá-las sumariamente por falarem tão alto, obrigarem o Zé da tasca a ler Karl Marx e levar enxertos de porrada se se atrever falar de futebol, sofreríamos sevícias das mulher-soldado polacas e russas...

Haviam bombas de vários tamanhos, cores e feitios para reduzir a cinzas todos os porcos capitalistas, do mesmo modo também lhes enviaríamos umas bombas atómicas bem gordas com ogivas múltiplas para explodirem em Stare Wies ou numa qualquer remota aldeia de pastores na Checoslováquia, assim andamos todos à espera do Apocalipse até que um dia o Comunismo caiu - de podre. Estávamos em 1989.

Apesar da Polónia ter sido o primeiro país satélite da URSS a afastar-se, foi a RDA que serviu de ícone para o colapso do Comunismo na Europa, o Muro de Berlim caiu com a fúria e alegria das multidões, os Trabant rolavam pela primeira vez em liberdade, em estradas da RFA, a canção de Sting deixou de fazer sentido de um momento para o outro... o som que passava na MTV, nas rádios e na televisão era o Winds of Change dos Scorpions.





Hoje, neste ano da graça de 2009, um português escreve a partir da Polónia, em plena liberdade, em terras que foram em tempos território do inimigo. Muita água correu debaixo da ponte, agora a Polónia é uma jovem Democracia, ficam os traumas de outros tempos a moldarem as mentalidades, ficam más recordações para uns e boas para os que usufruíram do "sistema", a Nomenclatura deve ter saudades...

E aqui estou, junto com tantos outros estrangeiros, a viver o dia-a-dia, num país improvável, numa emigração atípica mas, como dizia o nosso poeta:

E valeu a pena? Tudo vale a pena se a alma não é pequena.

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